Luiz Fernando Bindi
Oi, gente! Tudo bem?

No último sábado, dia 7 de abril, resolvi fazer um programa que muitos classificariam como sendo de índio: fui assistir Juventus e Olímpia pela Segunda Divisão do Campeonato Paulista.

Por 5 reais, comprei um ingresso nas antigas e tradicionais arquibancadas do Estádio Conde Rodolfo Crespi, a famosa Rua Javari, no ainda mais tradicional bairro do Mooca.

Estacionei defronte à Pizzaria San Pedro (com mais de cinqüenta anos de bairro). Eu havia chegado às duas da tarde e o jogo começava às três, pois não há refletores na Javari e as partidas têm que terminar antes de escurecer.

Com tempo de sobra, pus-me a observar, o olho direito, geógrafo e o esquerdo, jornalista, as pessoas que começavam a se aglomerar em frente ao acanhado portão de madeira que praticamente separa a rua do gramado.

Primeira constatação: a média etária da torcida juventina é bastante alta, certamente ultrapassando os 50 anos. De pessoas mais jovens, um menino de dez, doze anos, acompanhando um visivelmente emocionado avô, e mais umas quinze pessoas entre vinte e trinta anos.

Quando faltavam vinte minutos para a três da tarde, por volta de setenta torcedores se aglomeravam à espera da abertura do portão. E ele se abriu, com os guardas chamando os torcedores pelo nome e me olhando como a dizer: “esse eu não conheço” e os orientando a passar pela catraca eletrônica (algo deslocada naquele ambiente anos 60).

Lá dentro, um cheiro de poesia, de grama seca sob o sol forte, de saudade (um tio-avô meu foi o sócio número 1 do Juventus) e de absoluta paixão pelo futebol.

Sentei na arquibancada branca e grená (capacidade para 196 torcedores, diz uma placa preta com letras amarelas) e esperei o jogo começar, sempre observando a torcida que chegava.

A organizada do Juventus (a Ju-Jovem), brinca-se, cabe numa Kombi. Mas ela chegou barulhenta, uma romântica charanga, entoando nomes de jogadores desconhecidos com uma paixão há tempos esquecida. Realmente, ela é formada por jovens, que não ultrapassam os vinte anos. Fico pensando: nas brincadeiras da segunda-feira, terão eles coragem de admitir que torcem para o Juventus da Mooca?

A partida começou, muito boa e bastante disputada. Meus olhos eram de um simples observador, já que não torço para nenhum dos dois times. Mas ao ver o amor construindo-se à minha frente na figura de um senhor de seus setenta anos, que gritava palavrões em italiano e dizia que não xinga “jogadô do Juventos”, comecei, sem me dar conta, a torcer pelo time grená.

No fim do jogo, quando o Juventus fez o gol da vitória aos 47 do segundo tempo, me peguei pulando e abraçando ‘seu’ Irineu, o italiano que xingava na sua língua natal.

Na saída, esperando em frente à porta de madeira cor de vinho, estava o menino de uns doze anos que acompanhava o avô. Flâmula na mão direita e caneta na mão esquerda, ostentava um brilho que só o puro amor pode trazer aos olhos de uma pessoa. É… como o futebol é lindo

Obs :Luiz Fernando Bindi faleceu em 22/07/2008