Muitos nos perguntam: – O bairro da Mooca está mudando? Esta sendo para melhor ou para pior?

Para quem não conhece sua história podemos responder que a Mooca viveu várias fases desde sua fundação. No inicio quando se construiu a ponte sobre o Rio Tamanduateí ela era uma floresta habitada por índios. Aos poucos os jesuítas foram construindo casas o que deu seu nome indígena: Mo = construir e Oca = casa.

Com o passar do tempo as terras da Mooca foram adquiridas por famílias abastadas para suas fazendas, sítios ou chácaras como a da família Paes de Barros.

Em 1867, foi inaugurada a Estrada de Ferro São Paulo Railway (Estrada Santos a Jundiaí) para encaminhar o café produzido no oeste da Província para o Porto de Santos trazendo as industrias para o bairro.

Em 1875, Rafael Aguiar Paes de Barros, que possuía muitas terras no bairro, como criador de cavalos, abriu o Clube Paulista de Corridas de Cavalo: o Prado (atual Jóquei Clube). Passando o bairro a ser também um centro de lazer onde os mais abastados vinham assistir as corridas e apostar nos cavalos. Com a industrialização e esse centro de lazer, a Mooca fervilhava com comércio ativo durante a semana com os operários e nos finais de semana com a elite que vinha ao Prado.

O bairro realmente parecia uma cidade do interior, nos fins de semana havia na Rua da Mooca, da esquina da Rua Visconde da Laguna até a Avenida Paes de Barros o vai e vem das pessoas (footing) onde os jovens ficavam conversando com os amigos na calçada e as jovens passeando no meio da rua. Era uma era romântica, os jovens sempre de terno e gravata e as jovens com seus melhores vestidos. Daí saíram muitos casamentos.

O Carnaval de rua acontecia da Avenida Paes de Barros até as porteiras com desfile de carros. Era costume as famílias deixarem as portas das casas abertas para facilitar a entrada de alguma vizinha e à noite levavam as cadeiras para fora e ficavam conversando e as crianças brincando nas ruas.

A cidade foi crescendo e transformando com ele os bairros incluindo a Mooca. A grande movimentação de bondes, ônibus e carros terminou com o footing e o carnaval de rua, vieram as duas grandes guerras e com elas primeiro um boom de crescimento, logo depois crise, paralisando a cidade e o bairro.

As famílias, como acontecia tradicionalmente, agora só se reuniam nos fins de semana para saborearem o macarrão da “mama”. Mas ainda sabiam receber os ilustres visitantes que aqui chegavam. Quem vinha morar no bairro logo fazia novas amizades.

Dizem que não há mal que nunca termine e nem bem que nunca se acabe, assim o bairro tipicamente operário passou a ser um bairro prestador de serviços, classe média, com três universidades, muitas empresas prestadoras de serviço, e ainda algumas fábricas que resistiram à mudança. Ainda moram muitas famílias italianas e de outras nacionalidades antigas que dá a tranqüilidade que um bairro precisa para ser semelhante a uma cidade do interior.

Podemos dizer que essa era a Mooca de ontem, a de hoje, passados apenas cinco anos de quando escrevemos o livro Mooca 450 anos – Passando pelo Túnel do Tempo e fizemos uma análise da situação, mudou e mudou muito.

Algumas coisas até melhoraram com a chegada de restaurantes e barzinhos nos quais podemos fazer nossas refeições e nos relaxarmos nos fins de tarde, sem precisar nos deslocarmos para outros bairros. Em compensação, o bairro passou a ser a “bola da vez” na questão imobiliária. Hoje há espigões crescendo em todos os locais permitidos, com muitos já com seus moradores e com o atravancamento da Avenida Alcântara Machado (Radial Leste) os carros da região Leste que também sofreu um grande desenvolvimento, os motoristas se desviam pela Rua da Mooca para atravessar a cidade causando congestionamento de mais de hora para se chegar ao Parque D. Pedro II.

Ontem o bairro era limpo, o asfalto era razoável, havia um mínimo de mendigos em suas ruas.

Hoje há sujeira em toda parte, há casas invadidas cheias de lixo, há mendigos espalhados por todos os cantos. Veja o caso da Creche Ninho Condessa Marina Crespi na Rua João Antonio de Oliveira com Rua Javari e dos Trilhos. Era para ser construído um prédio. A sociedade se mobilizou e conseguiu tombar o mesmo, que é de uma arquitetura valiosa. O que aconteceu? No outro dia da publicação os denominados “sem teto” invadiram o imóvel quase o destruindo, levando lixo para suas dependências e adjacências e tirando o sossego de quem mora em suas imediações.

A violência aumentou em todos os lugares, inclusive na Mooca, mas como ainda seus moradores participam com as autoridades dos CONSEGs (Conselho de Segurança Comunitário) os números são pequenos, mas não nos deixam mais ficar sentados na porta de casa conversando, passear à noite mesmo em ruas iluminadas.

A Mooca é um dos bairros com menos áreas verdes e as poucas que tem a Prefeitura está querendo vender para construir mais prédios.

Eu faço um apelo às entidades da Mooca: vamos lutar para termos um bairro querido por todos, termos mais segurança, mais higiene, mais atenção das autoridades, caso contrário seremos apenas mais um bairro nesta grande cidade que é São Paulo.

Euclydes Barbulho