Sabe, vocês não estavam
Tinham indo não sei pra onde
Santos, Guarujá, sei lá…
Então, eu olhei em volta e vi
Esta cidade.
Vazia cidade, vazia de gente, vazia de vocês.
Vi, por exemplo, à direita,
Lá no alto, Santana. Longe, linda vazia
Vi a serra da Cantareira, verde, ainda.
Vi nuvens querendo roubar a serra só para si.
Vi à esquerda, a Bela Vista.
Vocês não sabem porque ela se chama Bela Vista.
É que a vista é bela mesmo. Há o morro dos ingleses.
Lá, fincaram de propósito um pedaço da Inglaterra pros gringos usarem nos fins de dias paulistanos.
É linda. Lá há também os sobrados de ontem e as cantinas de sempre.
Os negros e os italianos, vivendo a mesma paz.
Olhei em frente e vi o alto da Lapa. O Jaraguá.
Um Pão de Açúcar sem Urca.
Um monte de torres de televisão, árvores de aço, mandando São Paulo por aí .
Vi a Anhanguera, aceitando os passos de novos bandeirantes que, porque não sabem, não procuram, fogem.
Vi ao lado, bem atrás, a zona leste.
As chaminés olhando para o alto, procurando mais lugar para subir.
Vi a Mooca cheia de ruas cheia de homens que só trabalham.
Vi as crianças que não viajam e talvez não viajaram nunca, porque precisam jogar bola para outros tri.
Olhei para baixo e vi o asfalto da avenida que no carnaval é pisado pelas sambistas e no meio do ano é acariciado pelas rodas dos automóveis.
Olhei e vi São Paulo. São Paulo, vazia de paulistas e paulistanos, que apenas se servem desta terra que continua dando.
Um dia eles irão. Irão e verão o verão de Santo Amaro, Zona Sul, com as árvores verdes, sinais vermelhos para a tristeza.
E me verão aqui, vigiando tudo isto e amando isto tudo.
Muito obrigado. Assinado, edifício do Banco do Estado.

Walter Silva (1972)

Conheça mais sobre a história desse eterno mooquense em “Famílias e Personalidades