“Não há registros oficiais mas tem-se que a Cantina Romanato, fundada nos últimos anos do século XIX, foi a primeira pizzaria da Mooca e uma das primeiras da cidade de São Paulo. Seu criador, Carlos Romanato, tornou-se uma personalidade a tal ponto que a sua imagem consta da bandeira da Mooca, como representante dos imigrantes que desenvolveram o Bairro (veja história da família Romanato na seção “Famílias e Personalidades”) . Quem nos conta a história dessa Cantina é Edgard Alexandre Romanato, primeiro bisneto homem do patriarca Carlos.

“Eu morava no n° 297 da Rua Javari; meus tios e meus avós moravam no 303 e ao lado, no 313, estava estabelecida a Cantina Romanato, a original, fundada pela família logo após chegarem ao Brasil em 1892, exatamente no local onde hoje está localizado o estacionamento da Pizzaria São Pedro.

Talvez o primeiro nome não tenha sido Cantina e sim Armazém Romanato, pois meu bisavô era importador de queijos, vinhos e cereais e foi nesse local que aconteceram vários episódios relevantes da historia da Mooca.

A venda era uma casa com uns 10 ou 12 metros de frente, com três portas grandes, sendo que a porta do meio era a mais larga e com uma tranca pesadíssima. Essas portas eram altas com mais de três metros de altura e feitas com uma madeira muito grossa, parecendo mais porta de igreja do que de cantina.

Logo que se entrava, via-se um balcão comprido, de mármore avermelhado, apoiado em um madeirame de mogno escuro, todo entalhado, que junto com os armários do fundo eram uma verdadeira obra de arte da marcenaria da época. Após esse salão de entrada, havia uma porta interna, onde saiamos num salão ainda maior, local que na hora do almoço, era utilizado para as refeições, com diversas mesas espalhadas e nas terças-feiras a noite era utilizado para o ensaio da Corporação Musical Carlos Gomes, fundada pelo meu bisavô, Carlos Romanato e que ficou conhecida popularmente como a Banda do Romanato.romanato1

Em seguida ficava a cozinha, com fogões de ferro enormes e uma pia também de mármore com três cubas, cada uma com uma torneira com um jato de água muito forte. Eu lembro que as cubas eram bem grandes, onde cabiam perfeitamente os panelões e as colheres de pau. Havia uma porta de saída para o quintal, onde se encontravam uns seis degraus até chegar no quintal, que era bem grande.

Nos fundos ficava a casa de meus bisavós e em baixo em grandes porões, ficavam armazenados os alimentos, os queijos, os latões de óleo, azeitonas, etc. A propriedade ia até a Vila Cavalheiro Crespi.

Voltando para a entrada principal da venda, ao lado direito, havia outra saída para o quintal; logo junto a porta havia uma cobertura, sob a qual ficava uma mesa muito grande com bancos de madeira que, seguramente, acomodavam umas 8 pessoas de cada lado e onde os italianos, após o almoço, jogavam a “Morra”, um jogo estranho que todos gritavam e colocavam as mãos para frente como no par ou impar que conhecemos, mas todos ao mesmo tempo, fazendo um barulho danado. (Nunca descobri quem havia ganho o jogo).Ali ficavam também as garrafas de vinho vazias, armazenadas em varias prateleiras encostadas nas paredes e que acredito eram vendidas aos ferros-velhos e garrafeiros.

Abaixo, já no meio do quintal, ficavam os chamados reservados, que eram cinco ou seis ambientes cobertos, com mesas e cadeiras, onde eram servidas as pizzas para os fregueses.

As pizzas não eram servidas diariamente, mas somente aos sábados à noite, pois não era costume comer pizza durante a semana, mas aos sábados a rua ficava cheia de carros e havia fila para os reservados.

Quem fazia as pizzas era meu tio Rogério e tinha como ajudantes nada menos que o Sr. Ângelo e o Sr. Raphael Barbudo, que continuaram no ramo com as famosas Pizzarias São Pedro, no mesmo local da antiga Romanato e as Pizzarias do Ângelo, cuja mais famosa é a da Rua Sapucaia.

Bons tempos e pizzas maravilhosas.”