Nascido na Bahia em 14 de março de 1847, na antiga Curralinho (depois rebatizada com seu nome), Antonio de Castro Alves foi considerado “o poeta da Abolição, da República, da Liberdade e do Amor”.

Na capital pernambucana, onde se encontrava em 1863 para se curar de tuberculose, conheceu a atriz portuguesa Eugênia Infante da Câmara, que seria seu maior amor, e com quem se uniria três anos depois. Em princípios de 1868, seguiram para o Rio de Janeiro, mas – depois de um mês de festivas recepções – rumaram para a capital paulista, onde se hospedaram no Hotel da Itália. Enquanto Eugênia tratava de assuntos teatrais, ele passou a freqüentar a Faculdade do Largo São Francisco. Virou logo um ídolo da mocidade paulistana, dos seus colegas, e até dos mestres, principalmente de José Bonifácio, o Moço.

Castro Alves escreveu em São Paulo seus mais sublimes cantos: O Navio Negreiro e Vozes d’África, além de muitos outros poemas, considerados entre os mais heróicos e comoventes já escritos em português.

Separado da mulher, e sem outras distrações na então pequena cidade de São Paulo, o poeta saía para caçar, embora voltasse geralmente, horas depois, sem ter disparado um só tiro: era um pretexto para se isolar, na tristeza pela perda do amor de Eugênia.

Numa tarde, durante uma dessas excursões, em uma chácara entre o Brás e a Mooca, ao saltar um fosso, a arma que levava disparou acidentalmente, e a carga de chumbo se alojou em seu pé esquerdo. Tombou ao chão e ali permaneceu longo tempo, gemendo de dor; a custo, conseguiu arrastar-se até a casa mais próxima. O médico baiano e seu amigo, Dr. Lopes dos Anjos, levou-o para o centro da cidade, onde – apesar do apoio dos amigos e dos tratamentos que recebeu – continuou sofrendo muito em conseqüência daqueles ferimentos.

Seis meses depois, Castro Alves partiu para o Rio de Janeiro. Nessa data, 19 de maio de 1869, o jornal O Ipiranga noticiava: “Vai, condor ferido. Mais alto do que tens voado, dominarás ainda as alturas deste hemisfério”. Seguiu para Santos e, dali, para o Rio, em companhia de Rubino de Oliveira. Das terras paulistas, levava a saudade, expressa nestes versos:

Das várzeas longas, das manhãs brumosas,
Noites de névoa, ao rugitar do Sul,
Quando eu sonhava nos morenos seios,
Das belas filhas do país do Sul.

No Rio de Janeiro, impressionantemente débil – o que desaconselhava o uso do anestésico de então, o clorofórmio -, ordenou a amputação do pé que ameaçava gangrenar. De muletas, ainda se avistou uma última vez com Eugênia Câmara, que se exibia no Teatro Fênix Dramática – e que morreria ali mesmo no Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1874.

Em 25 de novembro de 1869, Castro Alves regressou à Bahia, em viagem melancólica e triste que seria relatada no poema Espumas Flutuantes. Mas a tuberculose avançava e aos 24 anos ali morreria, em 6 de julho de 1871, meses antes da promulgação da Lei do Ventre Livre (de 28 de setembro daquele ano, libertando da escravidão todos os nascidos no Brasil a partir de então).

Sua obra Os Escravos só seria publicada pela primeira vez em 1883. Dois anos antes, porém, de surgir (em 28/9/1885) a Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe (que tornava livres os escravos maiores de 60 anos). E cinco anos antes do advento da Lei Áurea, que seria assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, libertando enfim oficialmente todos os escravos negros do Brasil.