Se te derem limão, faça uma limonada.

Nos anos 50 ainda que em seus números finais a coisa andava preta pelo lado da minha família.

Papai adorava alimentar com nosso leite os cavalos do Jóquei Clube… Daí qualquer dinheiro que pintasse lá em casa ia para uma barbada, e não era de nenhum circo.

A molecada da Juvenal Parada, lá perto da rua dos Trilhos, cada dia inventava um meio de ganhar dinheiro, eu não poderia ser diferente.

Bolinha era uma revista que na época o best seller da meninada. E foi de lá que tirei a idéia da limonada.

Havia um pé de limão no fundo quintal do porão que a gente morava, o Seu Maneco sempre de olho para ninguém apanhar limão sem ordem dele.

Depois de uma semana de conversação consegui uma meia dúzia do precioso fruto para minha empreitada.

Uma jarra, herança da falecida avó Paulina Zanotti para sempre lembrada.

O açúcar, ultimo que restava peguei na esperança de depois comprar um quilo na venda lá da rua Oratório (não consigo lembra-me do nome do dono de lá)

O gelo Dona Iracema me deu, ainda que um tanto desconfiada.

O calor que fazia na certa iria colaborar para o bom andamento dos negócios.

E de uma da tarde até as quatro, em que pese a alta temperatura daquela tarde de céu de Brigadeiro, os únicos a tomar a limonada fora meu irmão m,ais novo, o Beto Boca e eu.

Até que surgiu um cara com uma pasta, perguntou o preço, e pediu uma, já um tanto quanto caliente.

E perguntou se era ali que morava o Sr. Fulano de Tal.

Orgulhoso respondi que era meu pai, ele me olhou assim meio ressabiado e pediu mais uma e outra mais.

Eu já me via como um novo Matarazzo.

Lá pelas tantas depois de acabar com minha limonada sacou de um cartão e me deu, no cartão os seguintes dizeres:

Lojas Sangia

Hermínio Piumatti

Cobrador

-Avisa o Paschoal que estive aqui.

-E as limonadas, ainda arrisquei.

– Quando eu receber o que seu pai me deve eu debito a conta. E lá fui eu com meus apetrechos de aprendiz de comerciante para o porão.

Quando meu pai chegou a noite pediu café, (era a única coisa que restara na despensa) tive que confessar a falta de açúcar, e entreguei o cartão do tal.

Na Mooca tinha um cara que fabricava uns cintos de couro natural, antes, bem antes de isso ser moda, sei apenas que tinha uma filha de nome Maria José, e um filho José Maria, pois foi com este cinto que apanhei pacas.

Julio Jules Domingues, o Tchubé