Como já contamos em outra reportagem, em 1876 foi inaugurado o Hipódromo da Mooca, na confluência das ruas Bresser e Taquari. Além das tradicionais corridas de cavalo, esse local serviu de campo de pouso de aviões contemplando alguns fatos históricos como o primeiro voo panorâmico sobre a cidade, o primeiro voo São Paulo-Rio de Janeiro e o recebimento do primeiro malote do Correio Aéreo.

Após desativado, o local foi sede da Escola Técnica de Aviação, palco de diversas festas comemorativas, local de vários campos de futebol de várzea e, finalmente, sede da Subprefeitura, centro educacional e esportivo e vários órgãos governamentais.

Mas, se já não bastasse tudo isso, o antigo Hipódromo teve um uso inusitado, muito pouco divulgado e, consequentemente, de pouco conhecimento por parte da população: em 14 de dezembro de 1902, o local foi palco da primeira corrida de automóveis do Brasil.

Nessa data, o jornal O Estado de São Paulo noticiava: “A corrida que dá hoje o Jockey Clube Paulistano é inquestionavelmente a mais bella e importante do anno. No intervalo do terceiro para o quarto pareo será disputado pela primeira vez no Brasil um pareo de automóveis, dirigido por moços das mais distintas famílias desta capital.”

Da competição participaram apenas 3 competidores, o que não é de se estranhar uma vez que à época, na cidade de São Paulo, existia apenas meia dúzia de veículos cujos proprietários eram milionários e como não sabiam dirigir, o carro geralmente vinha acompanhado de um motorista estrangeiro que podia ser francês ou inglês e que transitavam com grande dificuldade pelas ruas da cidade, ainda não preparadas para essa modernidade. Os ilustres pilotos dessa competição foram:

– A. Morelli, representante da Prinetti & Stucchi, fabricante de máquinas e veículos, com um carro marca De Dion-Bouton de 6,5 cv;

– José Paulino Nogueira, político e empresário de Campinas, com um Darracq de 12 cv.;

– Francisco da Cunha Bueno, filho do Visconde da Cunha Bueno, com um Darracq de 9 cv.

Como José Paulino corria com um motor mais potente, o mesmo ofereceu duas voltas de vantagem aos adversários mas, mesmo assim, venceu o páreo, completando os 9.700 metros do percurso em 10 minutos, com uma média de 58,2 km/h. Francisco Cunha Bueno ficou em segundo lugar.

Fontes : Jornal O Estado de São Paulo; São Paulo Antiga; História do Automobilismo no Brasil
Publicado em 09/12/2021