No sábado, 30 de setembro, um evento histórico inundou de alegria o bairro da Mooca, em São Paulo, SP, ao reunir mais de 60 alunos, formandos do curso colegial, em 1973, da Escola Estadual MMDC, antigo Colégio Estadual MMDC.

Repletos de muita emoção e curiosidade pelo reencontro, todos receberam etiquetas colantes com seus nomes para que a interação fosse mais eficiente, pois muitos não se viam havia mais de 50 anos. “Mais que histórico, um dia especial, que será indelével de nossas lembranças e recordações futuras”, comentou Carlos Valentim.

Em sua maioria ainda moradores do bairro da Mooca, os quase ou completos setentões comemoraram com muitas lembranças o Jubileu de Ouro da formatura, em um evento marcado especialmente pela gratidão à vida e pelas muitas saudades de um tempo em que tomavam ônibus sozinhos, torcendo para que aquela paquera entrasse no mesmo horário e compartilhasse a viagem para a escola.

Andava-se em ruas e praças desertas com alegria e leveza. Havia caderneta escolar para que os pais acompanhassem as notas, o aproveitamento dos estudos, as peraltices e – principalmente – o carimbo de presença de todos os dias.

Não era nada fácil entrar em escola pública nos anos de 1960, principalmente em colégios referenciais, como era o MMDC. Havia fila de pais para a inscrição de seus filhos. Era preciso estudar muito para o exame de admissão, pois a concorrência era grande. Depois, era preciso se dedicar bastante para passar de ano. Só se fechavam as notas com média 7. Havia chamadas orais, provas, trabalhos, muita disciplina – e bagunça das boas -, amizade e admiração pelos professores e funcionários. No final do ano, tinha exame e a temível segunda época, para o desespero dos que não conseguiam média final para aprovação, roubando-lhes o sossego das férias de verão, como última chance para não entrar na lista dos repetentes, afinal só se podia repetir uma vez, senão era preciso procurar outra escola.

As marcas dos velhos tempos

“Tivemos o prazer e o privilégio de estudar em um dos melhores colégios estaduais da nossa época. De fato, a gente aprendia mesmo e só passava de ano quem realmente estudava e sabia. Muitas saudades desse tempo de outrora, quando a educação estava sempre em primeiro lugar.

Obrigada aos nossos mestres queridos e inesquecíveis, que fizeram de nós seres humanos melhores”, comentou Jurema Sereza.

“Para mim, estudar, naquela época, à noite, e trabalhar de dia era um jeito de mostrar que já estava adulto. Não sabia que a vida me levaria a conhecer colegas, professores e funcionários que me ensinaram não só as coisas acadêmicas, mas também as cotidianas. Mostrariam os primeiros amores, tirariam a timidez. Ensinaram o coleguismo, que tenho até hoje. Uns até bem distantes na geografia, mas perto do dia a dia. Só aprendi, só tive emoções. Foi a época, talvez, mais feliz da minha vida”, afirmou o diácono Sergio Vlainich.

Michele Bosco também sentiu o peso da timidez na juventude. Segundo ele, a dificuldade acabou sendo enfrentada da melhor forma: com a participação do grupo de teatro da escola, o Alethea, “Eu era muito difícil de interagir com as pessoas e o MMDC me proporcionou mais essa superação”, recordou. A peça se chamava Labirinto, tendo sido escrita por Edson Assad, um dos colegas de turma. “Foram duas apresentações, uma no ginásio do MMDC e outra, a convite no Instituto Musical de São Paulo – Faculdade de Música do Glicério”, lembrou Gerson Nogueira

O encontro comemorativo

Durante a comemoração dos 50 anos de formatura da turma não poderia mesmo faltar abraço, recordações e muita alegria no reconhecimento dos colegas de classe, que no último ano optavam por aulas específicas nas áreas de Humanas, Biológicas ou Exatas. O ambiente do Bar e Restaurante Amici, local reservado para o encontro foi invadido por uma vibração contagiante, feliz, de muitas risadas. Houve também, carinhosamente, a entrega de lembrancinhas do encontro, com direito a balinhas personalizadas e comemorativas, com a logo do MMDC.

Ao embalo de samba e pagode, ao vivo, dos característicos paulistanos Samba do Arnesto e Saudosa Maloca (Adoniran Barbosa, 1951), contando com o tecladista Danilo Sguillar , filho de Márcia Livia Sguillar, uma das formandas que estiveram à frente do encontro, alguns casais ocuparam a pista, como nos velhos tempos dos bailes na quadra coberta da escola ou nas tão aguardadas matinês do Clube Atlético Juventus, que também sediou as memoráveis festas do Havaí, da Primavera, das Bruxas, Carnaval, onde tantos se encontravam.

Alguns desses amores, já também completando Bodas de Ouro, tiveram início no MMDC. “Somos eternamente adolescentes. O que vale não é a idade cronológica, mas sim o espírito jovem que temos”, disse Leliana Zanotti, casada com Giácomo Cacici e que começaram o namoro na escola, no final de 1973, e que foram homenageados pelos colegas de turma, assim como também Marie e Gerson Nogueira, Maria de Lourdes e Fernando Pertinhez, Maria Elisa e Marcos Ciirilo, Ivani e Luiz Carlos Sajben.

A celebração, que vinha sendo organizada havia três meses via redes sociais e WhatsApp, surpreendeu pela presença significativa do grupo. Parecia que o tempo não havia passado, tamanha a emoção ao se reconhecerem – fosse pela lembrança dos nomes, pelas etiquetas colantes nas roupas ou pelos sorrisos marcantes da época.

Hino e muita emoção

Ponto alto do encontro foi a entoação, em pé, do Hino do MMDC por um grande coral de saudosos e visivelmente sensibilizados pelo momento tão especial. Isso, após ter sido efetuada, ao microfone, a chamada de classe, com muitos aplausos, e o agradecimento aos pais e professores, mencionados com muito carinho e gratidão. Emocionante também foi a recordação, nominalmente, em minuto silencioso de prece e boas vibrações, dos colegas que já haviam partido dessa jornada, alguns ceifados pela pandemia da Covid-19, participantes no passado de tantas histórias comuns.

“Agradeço muito a todos os amigos, que tiveram a brilhante ideia desse reencontro. Foi uma tarde inesquecível e muito marcante para nossa história. Que venham outros, muitos outro. Foi linda a nossa homenagem aos amigos que não mais estavam presentes fisicamente nesse plano, e aos nossos professores, e que tanto se dedicaram para que cada um de nós pudesse percorrer com maior segurança o seu caminho. Como professora, sei muito bem que essa missão é muito árdua e pouco valorizada, infelizmente”, comentou Maria Regina Martos de Carvalho.
“Rever amigos e saber da história de cada um… Ah! Que prazer… Os anos se passaram , mas o laço de amizade continua firme e forte. A vida nos distanciou, mas o carinho e o afeto serão para sempre! Vocês estarão sempre em nossas lembranças e corações,” disseram Leliana e Giácomo Cacici, residentes atualmente em Belo Horizonte, MG

“Éramos jovens, com um monte de sonhos e vontade. Hoje, vemos que crescemos, lutamos, batemos, apanhamos, caímos e levantamos, casamo-nos, tivemos filhos, alguns descasaram, casaram de novo, outros se conheceram na escola e estão casados até hoje… Vencemos e perdemos batalhas. Mas, quando nos reencontramos, podemos reviver tudo isso. Percebemos que o carinho e o amor não desapareceram. Há alegria em encontrar cada um. Pudemos rever amores passados, amores sabidos, amores escondidos, trocar experiências que vivemos, lembrar coisas e aprender outras que nem imaginávamos tivessem acontecido. Tudo é motivo para brindarmos a vida porque, ao olharmos para trás, lá se vão 50 anos e, nesses 50 anos, Deus guardou todos nós para esse tão feliz reencontro. Os que se foram, creio, já estão com Ele. Escrevemos cada um a nossa história, mas todos deixaram lá naquele tempo marcas em nós, no nosso coração. E hoje pudemos acrescentar ainda mais uma, que como aquelas também não irá desaparecer. Vamos brindar à vida, porque ela deve ser vivida intensamente!”, considerou o pastor Jesus Estre Rombe.

Diversidade e respeito

A diversidade de formação acadêmica também mostrou como nesses 50 anos cada qual se profissionalizou, entrou para o mercado de trabalho, tendo como base o estudo e formação do MMDC – jornalistas, engenheiros, publicitários, dentistas, filósofos, professores, artistas, teólogos, musicistas, médicos, advogados, psicólogos, administradores, biólogos, empresários, todos saídos de lá.

Também se observou o exemplo que foi construído de respeito à diversidade religiosa, reunindo diácono, pastor, católicos, espíritas, entre outras profissões de fé. “Temos que agradecer sempre por tudo e por estarmos bem, cada um no seu tempo. O encontro foi maravilhoso e só nos demos conta disso quando percebemos que somos apenas viajantes no tempo e espaço terreno da vida, seres em evolução’, desabafou Elicelia Marinho, lembrando o incentivo de um querido professor de filosofia da época, João Paixão Netto, que tanto inspirava os jovens estudantes, estimulando-os à reflexão, com sua vasta cultura sobre a história do pensamento humano.

Segundo Maria Abadia Fornazieri, “fomos colegas de uma juventude linda, e a emoção que sentimos nesse encontro ficará marcada para sempre em nossas vidas por ser simplesmente sensacional rever pessoas queridas, que fizeram parte da nossa história por tanto tempo e numa época tão especial”, assinalou.

Eleni Carillo confessou que, na volta, ao chegar em casa, desabou a chorar, tamanha a emoção do encontro. “Não conseguia nem ler as mensagens e ver as fotos e vídeos que foram postados. Gratidão a todos que participaram desse encontro, em especial aos organizadores, que se desdobraram para fazer desse dia um dia para ficar na história das nossas vidas. Foi realmente uma época de ouro que vivemos, com professores que ficaram na memória e colegas que habitarão para sempre os nossos corações. Rogo a Deus que nos dê saúde para que possamos nos reunir novamente em breve. As amizades são nossa maior riqueza. Gratidão eterna!”, contou, no domingo, no grupo de WhatsApp.

O jornalista Hassan Ayoub também ficou admirado com o encontro e disse já estar aguardando o próximo. “Só não podemos esperar muito. Poderia ser agora uma vez por ano, só marcar a data”, sugeriu.

Para Solange Larese, esses encontros devem mesmo ser mais rotineiros. “Foi maravilhoso, muito bom e revigorante poder rever os amigos, distantes na presença física, mas na memória e no coração muito, muito perto…”, assinalou.

Em homenagem ao MMDC, Manoel Jorge Diniz Dias afirmou que 1968 foi o ano que nunca acabou. “Nosso MMDC foi inaugurado em 1968, e a maioria de nós começou sua história nesse ano, estendendo-se até 1973, marco dessa data comemorativa desses 50 anos, celebrados hoje, nesse encontro tão comovente, onde, com muita humildade e orgulho, todos creditaram o protagonismo de vidas bem-sucedidas aos queridos pais e inesquecíveis professores. Que no ano que vem possamos estar novamente juntos e, simbolicamente, convidarmos a querida professora de português, a Valéria, que não lembramos do sobrenome e que ainda deve estar linda e maravilhosa, no alto de sua sabedoria, que com talento destrinchou para nós o Hino Nacional Brasileiro, para o privilégio da nossa compreensão sobre o significado de todas as palavras que estavam fora do nosso cotidiano”, lembrou.

A ideia surgida no grupo é agora comemorar conjuntamente os 70 anos de idade dos componentes da turma, alguns que completarão em 2024 e outros, em 2025.

Lembranças de tempos difíceis

Entre as muitas recordações, não poderia deixar de ser mencionado o susto de uma noite de junho de 1969. Dentro do contexto da época, o MMDC também vivenciaria de perto tempos difíceis da história do País. Alunos acabavam de voltar do intervalo de aulas, e já estavam dentro das respectivas salas, quando, de repente, ocorreu a explosão de uma bomba, colocada numa das caixas de energia elétrica do segundo andar do prédio da escola. Tudo tremeu, foi assustador. Mas isso também passou e não impediu que o aprendizado continuasse já no dia seguinte.
Ivani Cavuto comentou durante o evento o quanto foi emocionante relembrar tantas histórias e poder refazer o contato com pessoas tão queridas, que participaram das peripécias e desafios da juventude. “Isso nos dá a certeza de que construímos e trouxemos dessa época valores inestimáveis, tanto nas amizades, como na educação, através de professores, nossos queridos mestres, que não só nos ensinavam, mas também se importavam em nos tornar pessoas de bem”, analisou.

“Lavei a alma vendo os amigos queridos! Que coisa boa, felicidade pura!”, manifestou-se Marie Doki Nogueira no domingo. Todos os participantes mostravam-se, através de belos comentários, que ainda estavam muito tocados e com os corações renovados.

Para Michele Bosco, reencontrar velhos amigos e amigas representou aquilo que sempre pensou a respeito de todos eles. “A importância que cada um teve na minha formação de caráter, índole e personalidade. Cada um, mesmo que inconscientemente, contribuiu com algo, totalmente desprovido de qualquer interesse ou retorno, mas de um valor incalculável. Creio que tenhamos sido um dos últimos grupos de privilegiados que tiveram a oportunidade de estudar numa escola pública, que naquela época era muito melhor que várias escolas particulares. Isso evidentemente valorizado pelos diversos professores, verdadeiros líderes e ídolos para nós. Eles foram muito mais que educadores. Eram formadores de seres humanos. Todos iam muito além de nos ensinar as suas respectivas matérias. Preocupavam-se com cada um de nós, como cidadãos em formação. Devemos a eles e ao MMDC, em especial, o que cada um de nós se tornou, profissionais competentes, responsáveis, honestos e de um caráter a toda prova”, escreveu.

Carmen Lúcia Monteiro de Castro também lembrou sobre o quanto seria interessante se a direção atual do MMDC visse ou ouvisse os antigos alunos, depois de 50 anos, cantando o hino da escola com tanta reverência e emoção. “Para terem uma noção do valor da história de nossa escola. Somos um exemplo a seguir, uma das últimas gerações de alunos de escolas públicas, com professores comprometidos com a qualidade do ensino”, justificou. “Tivemos o prazer e o privilégio de estudar em um dos melhores colégios da rede pública, com professores que davam o máximo para nos ensinar. E eles conseguiram”, acrescentou.

Lugar de importância

Também da turma que se formou em 1973, Pasquale Cipro Neto, o conhecido Professor Pasquale de língua portuguesa, tão presente nas mídias, analisou a importância desse seu tempo de estudante. “O MMDC tem um lugar muito especial na minha vida. Muitos dos colegas desse tempo tornaram-se companheiros de vida. Tenho contato com eles até hoje. Rever os outros colegas, com os quais não tenho contato estreito, é sempre uma emoção indescritível. Parece que o tempo não passou e que ainda somos colegas de escola. As conversas que tínhamos naquele tempo vêm à tona com a mesma intensidade, como se amanhã houvesse aula e tivéssemos mais um dos encontros de todos os dias. Uma verdadeira maravilha!

Tive professores maravilhosos, mas, para não cometer injustiças, vou resumir o valor da formação que tive no MMDC na figura do monumental professor João Paixão Netto, fundamental na minha evolução pessoal e intelectual. A escola pública daquele tempo ainda era impressionantemente forte, séria, progressista, apesar da amaldiçoada ditadura que assolava o país e já punha em prática o seu projeto de destruição da educação pública”, concluiu.

Os formandos de 1973

ARLETE LA SELVA
ARLETE MARIA ZUCHETTO FERREIRA
CARLOS ALBERTO VALENTIM
CARMEN LÚCIA MONTEIRO DE CASTRO
CLEUSA MARIA FURLAN
DELAMAR CRUZ
DIÁCONO SÉRGIO VLAINICH
EDSON DEL BOSCO
ELAINE BARBEIRO ARTIBANI
ELENI FÁTIMA CARILLO BATTAGIN
ELIANA FERRER HADDAD
ELICÉLIA MARTINS MARINHO
ELISABETH ADELAIDE PRESTES
ELY ANE AMORIM
FÁBIO JORGE DE ANDRADE
FERNANDO JOSÉ PERTINHEZ
GERSON NOGUEIRA
GIACOMO CACICI
HASSAN AYOUB
HORÁCIO CONSOLMAGNO
IOLE ELIZABETH HOHL
IVANI CAVUTO SAJBEN
JESUS ESTRE ROMBE
JOÃO CARLOS MELÃO
JOSÉ GLADINORO CARBONE
JUREMA SEREZA
LELIANA ZANOTTI CACICI
LEONILDA CIANCI PENHA
MANOEL JORGE DINIZ DIAS
MARA SILVIA MARTINS
MÁRCIA LÍVIA A. SGUILLAR
MARCOS CIRILLO
MARIA ABADIA FORNAZIERI
MARIA ANGELA CARLOVICH VIANTE
MARIA ANUNCIATA CAPORRINO
MARIA DE LOURDES TAIR PERTINHEZ
MARIA DE LOURDES VIUDE OLIVEIRA
MARIA JOSÉ GRANDA MARTIN
MARIA REGINA MARTOS
MARIE DOKI NOGUEIRA
MARINA TARATETA FRANCO DE OLIVEIRA
MICHELE BOSCO
OLÍVIA AMENDOLA RESZECKI
PASQUALE CIPRO NETO
PEDRO CHEDID GEBARA NETO
RAFIC AYOUB
REGINA COELHO AUGUSTO BARONI
ROSA MARIA PICCININO GANDINI
ROSANA MORDENTI
RUI ANTONIO AMORIM
SAKAE
SÉRGIO VALDEZ AGARELLI
SOLANGE DA GRAÇA LARESE
SONIA MARIA PICCININO DE ALMEIDA
SUELI CERETO FRACKWISK
TANIA LÚCIA F. TÁPIAS
VERA LÚCIA AMENDOLA
WANDA CONICELLI

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Texto por Eliana Ferrer Haddad, jornalista e filósofa, formanda da turma de 1973 da Escola Estadual MMDC.