“Nove de julho de 1932 – 23 horas – Em um sobrado de São Paulo, transcorre tensa a reunião entre as principais lideranças políticas do Estado e os militares escolhidos para comandarem o mais belo e maior movimento armado (em número de tropas mobilizadas) ocorrido na América do Sul.
O inimigo: o governo ditatorial de Getulio Vargas e seus tenentes.
As horas decisivas são sempre assim: as mãos suam, os minutos não passam para os ansiosos, já passaram para os precipitados, ou então, nunca deveriam ter passado para os covardes. As vozes se levantam, se contrapõem: afinal, qual será o melhor momento?
General Isidoro Dias Lopes então decide: – “Tem que ser já. Comecemos. A senha da guerra será MMDC”
No dia seguinte as tropas já se posicionaram na fronteira do Estado (teria sido este o grande erro, pois ali ficaram estacionadas até o final dos combates)
Nunca se viu tamanha mobilização popular em tão pouco tempo e com tanta organização: mais de 70.000 voluntários em armas, tropas regulares do exército e força pública mobilizada, engenheiros e técnicos montando engenhos de guerra como a matraca, o morteiro MMM e o temível Trem Blindado; o governo Paulista emitindo moeda própria e as mulheres, sim, as mulheres costuravam fardas, atuando como enfermeiras e, quando preciso, incitavam seus homens à batalha oferecendo suas saias aos que se acovardavam.
Escoteiros, brilhantes estafetas, sacrificavam suas vidas para cumprir suas missões.
Vieram as grandes batalhas: Túnel da Mantiqueira, Cunha e Rio das Almas.
Então, São Paulo esperou. Esperou pelas armas que vinham da Europa. Esperou pela ajuda dos irmãos gaúchos e mineiros. Esperou pela Constituição. Esperou pela pacificação. Nunca se esperou tanto no Brasil.
E, ao fim e ao cabo, após três meses, capitulou diante do brutal assédio do resto da nação desinformada. E orgulhosos os Paulistas tiveram sua compensação de perderem na Guerra mais de 800 vidas, mas ao vencerem na paz com a promulgação da Constituição de 1934″
Este é o relato poético de um mooquense, coincidentemente nascido no dia 09 de julho, apaixonado pelos ideais da Revolução Constitucionalista de 1932.
Na verdade, essa paixão patriótica não é uma surpresa, pois sempre foi uma característica dos mooquenses. Nessa revolução, muitos deles se alistaram para lutar ou para participar da campanha “Doe ouro para o bem de São Paulo”.
Mas, vamos falar a respeito dessa Campanha: sem condições de enviar para os campos de batalha dezenas de milhares de voluntários inscritos, pois possuía apenas uma pequena quantidade de armas,o Governador de São Paulo, Pedro de Toledo decretou a criação de um bônus de guerra e para lastreá-lo foi lançada a campanha “Doe Ouro para o Bem de São Paulo”.
Imediatamente, milhares de pessoas, espontaneamente, passaram a doar jóias e até alianças de casamento.
O Clube Atlético Juventus não poderia ficar de fora e doou uma grande quantidade de taças e troféus conquistados até então, material que seria fundido e usado para fabricação de munição e armas.
Um dos mais belos relatos a respeito foi escrito por Maria de Paula da Costa Aguiar Toschi, que a seguir transcreveremos:
“Trabalhei na Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo desde o início. Assisti a centenas de espetáculos comoventes da generosidade do nosso povo. Os que nada tinham para dar, traziam suas alianças, o símbolo de sua união conjugal, dando a São Paulo o ouro precioso do seu amor…
Não me esqueço de uma pulseira de ouro, da largura de uns 2 dedos, com três brilhantes que deviam ter pelo menos 1 quilate cada um…
Vi também o ouro já fundido em barras, armazenado como garantia dos bônus que já começavam a circular. Aos que faziam donativos era conferido o diploma ” Ouro para o Bem de São Paulo”.
Quando começaram a circular as primeiras noticias do acordo ( que poria fim ao conflito), o pavor apoderou-se da organização da campanha. E se o governo federal tomasse posse daquela imensa riqueza? Às pressas se lavrou uma ata e se decidiu doar os valores à Santa Casa de Misericórdia.
Mas se os legalistas invadissem São Paulo e destruíssem o livro de atas? Eu, humilde desconhecida das patentes militares, durante mais de um mês (até que as coisas serenassem), o tive escondido no porão de minha casa.
O produto arrecadado pela campanha na cidade de São Paulo foi entregue à Santa Casa de Misericórdia, que o aplicou na construção do prédio no largo da Misericórdia (com formato da bandeira paulista desfraldada), tendo o mastro feito de alianças encimado por um capacete constitucionalista, denominado Edifício Ouro para o Bem de São Paulo”.
São Paulo possui vários locais onde podemos encontrar objetos e documentos históricos da Revolução Constitucionalista de 1932, dentre eles o Mausoléu sob o Obelisco do Ibirapuera e o Museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde se encontra o livro com a relação de todos os doadores da campanha “Doe Ouro para o Bem de São Paulo”
Colaborou: Sergio Valdez Agarelli
Veja mais a respeito da revolução de 1932 no site oficial da Sociedade Veteranos de 1932 – MMDC : www.muralnet.net/mmdc