Quem já visitou o Museu da imigração, na rua Visconde de Parnaíba, já teve a oportunidade de admirar duas misteriosas estátuas de mármore representando deusas gregas que hoje adornam a fonte do Museu.

Vários seguidores já nos enviaram mensagens indagando a autoria e quem representam essas obras de arte. Vamos ao desvendamento desse mistério, conforme explicações que nos foram concedidas pela Direção do Museu:


A fotografia mais antiga em que elas aparecem data de 1910 (imagem 1). Nela, as estátuas estavam localizadas na platibanda central do edifício (parte superior, próxima ao telhado): uma à esquerda e outra ao centro. Há ainda uma estátua à direita, formando um conjunto de três no total. O jardim possuía poucas árvores e um espaço livre considerável, quase sem ornamentos.


Em 1936, a Hospedaria de Imigrantes do Brás foi reformada: o prédio, até então com alvenaria aparente, recebeu um revestimento em massa e alterou a estrutura do jardim. A imagem 2 retrata um dos momentos da reforma e é possível perceber que as estátuas não estão mais na parte superior. Esta reforma é considerada bastante significativa, pois construiu a fonte do jardim, substituiu o estilo vazado das varandas por floreiras e arcos, deixando o edifício com estrutura semelhante à que vemos hoje.

A imagem 3 registra o edifício após a reforma e as estátuas aparecem nos canteiros do lado direito e esquerdo do jardim. Uma delas ficava próxima ao Posto Policial, Agência de Correio e a outra, próxima à Agência de Colocação e Trabalho, como podemos ver nas imagens 3 e 4, abaixo, respectivamente. A terceira estátua não aparece mais.


Algumas fotografias da década de 1970 nos mostram que as estátuas foram colocadas próximas à fonte, contudo, não sabemos ao certo em que momento elas foram reposicionadas. É possível perceber na foto abaixo (imagem 5), além do detalhe das estátuas, os novos usos do jardim, com a presença de carros no espaço da entrada principal


Em 2010, com o fechamento do Museu para reforma, as estátuas foram retiradas, passaram por um processo de higienização e foram mantidas acondicionadas em segurança. Elas retornaram ao Museu uma semana antes da reabertura, em 2014, e foram colocadas na mesma posição que estavam desde a década de 1970. Esse foi um momento importante para nossa equipe, quase um marco do fim das obras.

Explicadas a existência delas e a sua localização, resta-nos, agora, sanar a curiosidade sobre quem as produziu e o que representam. Vamos lá: as duas obras de arte foram produzidas pela conceituada empresa Villeroy & Boch, fundada em 1748, e especializada em produtos de cerâmica, a qual foi, também, a responsável por produzir, entre outras peças importantes, o piso do famoso Titanic.

E afinal, quem elas representam? São deusas gregas, e pelos atributos que uma delas carrega é, possivelmente, a deusa da agricultura Deméter. Se levarmos em consideração que, por muito tempo, a Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas coordenou as atividades relacionadas à imigração no estado de São Paulo e que a maioria das pessoas que passaram pela Hospedaria tinha como destino a lavoura, faz sentido a presença da deusa da agricultura acolhendo os (i)migrantes. A outra, por suposição, é a filha de Deméter, Perséfone, deusa das ervas, flores, frutos e perfumes, símbolo da primavera.

Com isso, agora vale a pena voltar a visitar o Museu da Imigração e olhar com mais atenção cada uma das estátuas, já que você conhece todos esses detalhes a respeito.

Fonte : Museu da imigração

Fotos: Acervo Museu da Imigração/APESP

Matéria publicada em novembro/2020