Neste mês de julho de 2005 a Paróquia de São Rafael, localizada no Largo de São Rafael, na Mooca, está completando 70 anos de sua fundação. Ao se escrever sobre a história torna-se necessário que se faça uma pesquisa que abranja toda a época, e que, se possível, ouça-se personagens que a vivenciaram, após o que, recolhido todos os informes pode-se escrever, pode-se citar destaques, pode-se opinar. Sem esses cuidados poderemos cometer injustiças e enganos que poderão se perpetuar na história.
Ao falar da igreja de São Rafael Arcanjo (*1) é preciso analisar todos os lados, todos os pontos desde sua fundação.
Será que poderemos afirmar que a Fundação da Igreja aconteceu quando no dia 28 de junho de 1935, festa do Sagrado Coração de Jesus, o Arcebispo assinou o decreto de fundação da nova Paróquia de São Rafael ? Ou quando se realizou o primeiro ato religioso, em 14 de julho de 1935, conforme o Pároco afirmou na primeira Certidão de Batismo emitida pela igreja? Assim consta na referida certidão, logo abaixo da assinatura do Pároco Padre Savino M. Agazzi:
“Primeiro batizado da nova parochia de S. Rafael hoje mesmo, 14-07-1935 officialmente inaugurada. P.S.Agazzi” ?
As opiniões podem divergir, eu fico com a segunda afirmação, pois uma entidade, uma igreja só passa a existir quando for oficialmente inaugurada. Deixando as opiniões divergentes de lado vamos aos fatos da fundação da igreja.
O Padre Savino M. Agazzi que atuava na Paróquia de Jacarepaguá no Rio de Janeiro é designado para fundar uma nova igreja no bairro operário da Mooca após convite feito aos Barnabitas por D. Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo de São Paulo.
(*1) – Não devemos confundir São Rafael Arcanjo, o anjo do Senhor com o também santo São Rafael (Rafael Kalinowski – nasc. 1/09/1835 falec. 20/11/1907 Dia da Festa 19/11)
O Padre Agazzi, como era mais conhecido, começou seu trabalho escolhendo o terreno para ser erguida a nova igreja. Estudiosos do assunto nos informam que o Largo de São Rafael já estava assim denominado (Largo de São Rafael) e a igreja adotou-o. O Padre Agazzi conseguiu por intermediação do amigo Valentim (um italiano como ele) um salão provisório na Tecelagem Santa Terezinha, ao lado de onde seria construída a sede definitiva da Paróquia. Com a ajuda da família Barbulho são feitos os arranjos, a luz elétrica é puxada para onde seria o altar pelo Agostinho (filho do Valentim), o altar de madeira foi improvisado e enfeitado pelas damas de caridade da comunidade, sendo a Elídia (filha de Valentim) a primeira dama de caridade da Paróquia. Tudo pronto e a paróquia realizaria seus primeiros atos religiosos.
Na noite do dia 13 de julho de 1935, em casa de particulares, foram bentas as imagens do Santo Padroeiro, do Coração de Jesus, e o quadro de Nossa Senhora, mãe da Divina Providência, e fundada a Arquiconfraria da Providência, seguindo-se a benção da Matriz Provisória.
No dia seguinte, 14 de julho de 1935, deu-se a solene inauguração da Matriz, com desfile acompanhado de banda de música, e “anjinhos” carregando cálice, pedra d´ara, missal, livros de batizados, campainha, toalhas e alfaia para o culto litúrgico. A grande multidão de fieis não permitiu a acolhida de todos na Igreja, sendo preciso celebrar-se a Santa Missa campal. Nesta ocasião, o Vigário Geral da Arquidiocese, Mons. Ernesto de Paula, promulgou e leu o decreto criando a Paróquia e investindo, na função o Padre Agazzi. “ (*2)
O primeiro batismo nesse dia, 14 de julho de 1935, foi o do Euclydes, filho de Valentim e Constança, que o Pe. Agazzi havia solicitado ao amigo Valentim que não o batizasse antes, ele já estava com mais de um ano de idade, e esperasse pela inauguração da igreja.
Pouco antes da inauguração, em cinco de julho, havia chegado o padre José Maria Lanzi e pouco depois o Irmão José, habilidoso carpinteiro, que ajudaram o Pe. Agazzi a desbravar a fé do povo da Mooca e dos bairros adjacentes que faziam parte da arquidiocese. Para se ter uma idéia do trabalho desenvolvido na primeira missa do galo realizada seis meses após a inauguração a mesma teve que ser realizada fora da capela: todos os que foram assisti-la não caberiam dentro dela.
(*2) – cópia tirada do livreto editado por ocasião do jubileu de ouro da fundação da Paróquia de São Rafael – José Ramos – Paulo Vagner Netto
Em 07/04/1946 há Cerimônia Solene da entrega das chaves da grande torre da igreja oferecida pela família Farrabino. Em 8 de dezembro há a chegada do Cardeal D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta para visitar as obras da igreja e principalmente para homenagear e parabenizar o Pe. Agazzi pelo seu cinqüentenário de vida religiosa.
Em 26/10/1947 houve a benção solene em missa especial com a presença da família Farrabino, grande benfeitora que mandou construir as torres.
Em 06/11/1949 foi rezada a Primeira Missa Solene cantada do neosacerdote Pe. Antônio Mucciolo. O coro Paroquial, sob a regência de Fernando Bastiglia, composto por 100 cantores executou a Missa “Te Deum Laudamos” de Lorenzo Perosi. O padre Mucciolo havia sido coroinha e Mariano de S. Rafael, o mesmo foi depois sagrado bispo da diocese da cidade de Botucatu, interior de São Paulo em 1977. Em trinta e um de dezembro foi rezada missa solene à meia noite para inaugurar os sinos da igreja que tanto trabalho deram para serem erguidos.
Em 1951, o revestimento interno da igreja prossegue e em 17 de novembro houve a benção solene do altar da Imaculada Conceição de autoria de um artista italiano mandado construir pelo Padre Mário Ma. Fontana, um dos auxiliares mais diretos do Pe. Agazzi.
Em 1º de janeiro de 1953 o Pe. Mário Ma. Fontana, sem solenidades, pois iria substituir seu antecessor que impossibilitado de trabalhar se afastara de suas atividades onde exerceu, como primeiro vigário, por 18 anos, assume a direção da paróquia. Em 20 de dezembro é inaugurada a sede do Centro Social Sta. Rita Maria Goretti, na Rua Orville Derby, antiga residência paroquial.
Em 07/05/1957 o Pe. Agazzi vem visitar seus velhos amigos e confrades depois de longo afastamento na Casa de Repouso São Pedro. Ao longo do dia celebrou missa para as crianças e recebeu inúmeras visitas. Em 18 de julho o “Altar Mor” da igreja é desmontado para que se inicie os trabalhos do novo altar que Pe. Agazzi tanto queria inaugurar, rezando a primeira missa. Em 12 de setembro os sinos dobram na paróquia e a tristeza invade todos pelo pesar: falecia na casa de repouso o Padre Savino M. Agazzi. Seu corpo foi velado pelos fiéis que ele soube conquistar e a missa em sua intenção foi rezada, de corpo presente, no altar ainda incompleto, mas que satisfazia seu desejo o de inaugurar o novo altar. Podemos dizer que após a morte de seu fundador a igreja não foi mais a mesma. O carinho o amor que colocava em tudo que fazia, seu carisma em fazer seus sermões com sua voz italianada e forte, a maneira como fazia com que as procissões tivessem um brilho incomum sendo acompanhadas por fiéis vindo de vários bairros. O brilho da Paróquia era visível em todo o bairro e sua influência positiva foi muito grande para o crescimento do mesmo.
Em 28/06/1959, depois de uma campanha interna de arrecadação, é inaugurado o Ambulatório S. Rafael e a nova residência dos sacerdotes que foram construídos na parte posterior da igreja em terreno cedido pela prefeitura.
Em 1965, no trigésimo aniversário da Paróquia, em reunião com as várias associações, o Padre Mário Fontana propõe a construção de uma nova sede social na R. Orville Derby construindo-se um prédio de vários andares para dar continuidade às obras sociais da igreja.
Nos domingos, após o catecismo, as crianças assistiam filmes preto e branco e mudo na igreja. Era uma festa para os jovenzinhos que se preparavam para a primeira comunhão.
O coro da Igreja, comandado pelos Bastiglia fazia sucesso não só na igreja de São Rafael, mas também em outras paróquias. Os componentes do coro se reuniam no empório do Valentim para festejar e para se aperfeiçoarem. Era uma atração nas missas das onze, que lotava a igreja de jovens que ficavam até do lado de fora, pois a mesma ficava lotada.
Surgiram novos párocos como o Pe. Valentino Zappa que substituiu o Pe. Mário Fontana por ocasião de seu falecimento (1967), o Pe. Manoel Inácio que assumiu a paróquia em 1975 depois de árduo e profícuo trabalho com a juventude e em substituição ao Pe. Valentino Zappa que viajara para a Itália. E assim vão se sucedendo os novos párocos, cada um dando sua força, sua inteligência e sua dedicação acompanhados sempre pelos padres que os auxiliavam para a grandeza da casa do Senhor. Atualmente a igreja tem como pároco o Pe. Teodósio de Aquino.
Atualmente a igreja está sob direção dos padres Teodósio César de Aquino e João Parreira da Mata, pertencentes à Congregação dos “Clérigos Regulares de São Paulo”, popularmente conhecida como “Barnabitas” (seguidores de São Barnabé). A vida da Paróquia de São Rafael continua atraindo seus fiéis realizando batizados, casamentos e missas, quermesses e festas proporciona cursos de formação para a comunidade e suas obras sociais continuam atendendo a comunidade carente do bairro. Mas hoje os tempos são outros, a fé do povo já não é a mesma e o carisma de homens como o padre Agazzi, padre Mário, padre José, irmão José fazem muita falta.