Nasci em 1946, na rua Javari número 297, sendo o primeiro bisneto homem do sr. Carlos Romanato, aquele senhor que aparece junto ao índio no escudo da Mooca. Segundo fiquei sabendo era um domingo ensolarado e nasci às 14:00h., atrapalhando o almoço da família. Duas casas depois da minha ficava a famosa Cantina Romanato. Note-se que nessa época nascíamos em casa e, portanto, foi uma festa, pois nesses anos também valorizava-se muito a descendência e um menino era uma felicidade.

Cresci convivendo com minha avó materna e meus avós paternos; eu me lembro que depois do café em casa, quando ia para a rua, meu avô Guido me pegava para tomar outro café na casa dele, o que causava uma briga com minha mãe, pois em vez de café era um vinho italiano colocado numa tigela para poder “xuxar” o pão de peito. Minha mãe ficava brava e dizia para meu avô que eu ia virar um alcoolatra, pois eu tinha uns 5 ou 6 anos e já ficava bebendo vinho. Resultado: eu era forte como um touro e somente não era muito gordo porque não parava quieto.

A Javari era uma rua cheia de casas compridas onde moravam várias famílias e o pessoal chamava de cortiço, sem nenhum preconceito. Não existia essa frescura de hoje e a molecada, pretos, brancos, etc convivia numa boa, quase todos com apelidos dados pelos próprios moleques, tais como Pé de Pato, Baleia, Caculé, Escurinho e alguns mais impróprios.

Aos 7 anos fui fazer o primário no Grupo Escolar Oswaldo Cruz e lembro que no primeiro ano uma professora chamada dona Eunice quase me arrancou os cabelos porque não havia recortado uns quadradinhos de papelão com as letras e os números de zero a nove. Quando falei que não precisava daquilo porque já sabia inclusive fazer as contas, apanhei mais ainda sob a alegação de que eu não era melhor que os outros e, se ela mandou, tinha que ser feito.

No quarto ano tive uma professora (dona Elsina)que era uma bondade e que tinha uma escola de admissão em sua residência. Ela chamou minha mãe e disse que eu deveria cursar essa escola para poder entrar no ginásio que era uma espécie de vestibular com apenas 8 vagas, super concorridas. Minha mãe explicou que não tínhamos condições de pagar as mensalidades e a dona Elsina simplesmente me apresentou com o curso (sou grato até hoje a essa senhora).

A fase da adolescência: Consegui entrar no difícil “Antonio Firmino de Proença”, excelente ginásio com professores muito bons, mas bastante severos. Nesse estabelecimento, posso dizer que tive um dos períodos melhores de minha vida. Fiz amizades que duram até hoje, fora ter conhecido minha esposa aos 15 anos de idade e com quem sou casado há 52 anos. Fiquei nesse colégio mais tempo que os outros, pois preferia jogar futebol a comparecer nas aulas.

Não vou me alongar, pois seria um capítulo à parte e bastante extenso. \Trabalhei em vários locais, sempre com informática e minha época mais feliz e mais penosa foi na Gessy Lever, hoje Unilever, uma verdadeira escola, além de ótima empresa.

Tenho dois filhos ótimos e 5 netas com as quais tenho a felicidade de conviver quase que diariamente. Enfim, somente posso agradecer a Deus por ter colocado essas pessoas na minha vida e, diga-se de passagem, todos vivem na Mooca, exceto minha filha que devido a escola das crianças e seu trabalho, mora em Moema.