Em publicações anteriores, já contei que, em abril de 2008, fizemos uma viagem como oportunidade para participar de dois Encontros Rotários da Amizade, com os Distritos 1960 e 1970 de Portugal, promovidos pelo Governador 2007-08, Ronald D`Elia, do então Distrito 4430.
Estávamos em uma SUV alugada eu, Neusa, o Vitor Sayeg e a Izóica.
Depois de participar, por um acaso, do Seminário de Recursos Hídricos do Distrito 1970, em Guarda, fomos para Folgozinho, onde almoçamos no restaurante do Albertino, por indicação e gentileza de nossos companheiros rotários portugueses.
Saímos do Albertino sem destino, com a intenção de conhecer algumas aldeias da Serra da Estrela.
Serra da Estrela é daqueles poucos lugares do mundo que parecem ter parado no tempo. Além da beleza natural, do queijo delicioso, é possível ver muitas tradições, como, por exemplo, a pastora de ovelhas, com trajes típicos conduzindo seu rebanho para o pastoreio.
A primeira parada foi em Linhares da Beira. Deixamos a Van na entrada da cidade, já que não era permitida a circulação de veículos desse porte, e fomos andando com o intuito de conhecer o castelo que lá existe.
Era por volta das três horas da tarde, estava muito frio e não tinha ninguém nas ruas.
Chegando em frente à igreja, vi uma senhora com aquelas vestimentas pretas típicas das viúvas portuguesas, vindo em direção à praça. Estava com um ramalhete de flores silvestres. Achei a imagem muito bonita e já pensei em obter uma foto.
Mas, como não acho legal tirar foto da pessoa sem consentimento, resolvi ir ao encontro dela, para conversar e pedir a autorização para fotografa-la.
Seguiu-se o seguinte diálogo, de modo resumido:
– Boa tarde! A Senhora está muito bonita.
– Muito obrigada.
– Posso tirar uma foto da Senhora?
– Mas, porque queres tirar uma foto minha?
– Porque quero levar a Senhora para o Brasil.
– Brasil! Eu já morei no Brasil.
– Que legal!
– Eu morei em São Paulo, na Mooca.
– Pois, eu moro na Mooca.
– Eu trabalhava na Alpargatas e meu marido tinha um bar na Rua da Mooca.
– É pertinho da minha casa.
– Voltamos para Portugal, quando as nossas três filhas ficaram adolescentes e meu marido não queria que elas namorassem.
– Qual é o sobrenome da família, arrisquei eu, mesmo sabendo que há centenas de milhares de portugueses que vieram para o Brasil.
– Fragoso. Sou da família Fragoso.
Eu pensei, conheço só uma pessoa com esse sobrenome, que tinha um supermercado na Vila Ema e tinha sido meu cliente. Antonio Tavares Fragoso. Todos os irmãos do Antonio tinham supermercados e eram meus clientes. Mas, tinham Veloso como sobrenome.
Continuei conversando, enquanto tirava fotos dela.
Ela me disse que ainda tinha parentes no Brasil. E me contou que tinha ficado muito triste com a notícia da morte do filho do sobrinho dela, que tinha sido assassinado.
Nesse momento, me acendeu uma luzinha.
– Como se chamava o jovem? Era Fernando?
– Sim, o Fernando!
– Filho do João Veloso, que tem um supermercado?
– O João é meu sobrinho.
Contei que conhecia todos os Velosos. João, Francisco, José e também o Antonio eram ou tinha sido clientes da minha empresa de contabilidade.
Ela me disse que a Rosa tinha vindo visita-los em dezembro passado, mas que não pode encontrar com ela, pois tinha ido visitar as filhas, que estavam morando em Nova York.
– A Rosa também é minha cliente. Tem uma indústria de produtos farmacêuticos.
– Você pode pedir para a Rosa me ligar. Faz muito tempo que não falo com ela.
Conversamos por um bom tempo e tirei algumas fotos, uma delas que ilustra essa publicação.
O mais inacreditável que a D. Maria foi a única pessoa que encontramos naquela cidade e, para dizer a verdade, no resto do dia que passamos “perdidos” nas aldeiazinhas da Serra da Estrela.
A vida nos proporciona momentos únicos. Precisamos estar sempre com a mente e o coração abertos para reconhecê-los e vive-los