Há mais ou menos cinqüenta anos atrás, ou talvez até mais, surgiu na Mooca, um senhor muito falante e muito educado, que perambulava pelas ruas Javari, João Antonio de Oliveira, dos Trilhos, e todas as que circundavam o Estádio Rodolpho Crespi, o famoso campo do Juventus.

Sua voz era meio rouca, meio fanhosa, mas todos entendiam muito claramente suas palavras e seu português sempre correto, bem empregado, demonstrava que aquela pessoa possuía uma educação refinada para a época.

Esse senhor, talvez até por gratidão ou por mera simpatia, adotou o Juventus como seu time de futebol passando a ser um dos mais assíduos freqüentadores dos jogos na Rua Javari, sempre fazendo comentários sobre o juiz, os bandeirinhas e até sobre os próprios jogadores, os quais conhecia muito bem, chamando-os pelo nome ou por algum apelido que os torcedores não conheciam. Por sua vez, não só o Juventus, como também a Mooca adotou aquele senhor educado, que convivia com todos e mesmo morando na rua, vivendo praticamente do que lhe davam, era uma figura simpática, que não incomodava ninguém, mesmo quando não estava sóbrio.

Nessa época, eu morava na Javari e devia ter uns oito anos de idade, mas me lembro perfeitamente da gentileza com que o senhor Cozzi cumprimentava meus pais e brincava comigo, que nunca cheguei a sentir qualquer medo dele. Acredito que o Cozzi, nome pelo qual era conhecido esse senhor, conviveu conosco por mais de vinte anos, de uma forma agradável, passando despercebido na sua indigência, mas nunca na sua inteligência e educação.

Eu me lembro do Cozzi e sinto saudades dele. Espero sinceramente que ele agora do outro lado da vida esteja bem melhor, tenha enfim encontrado um lugar onde tenha paz.

Autoria : Edgard Romanato