-Quem viveu no bairro da Mooca principalmente nos anos 50, e, na plenitude dos anos 60, tem guardado no peito para sempre, uma época dourada de uma geração.
-Tudo teve início numa maternidade, não me lembro o nome, talvez fosse Santa Teresinha, na Avenida Paes de Barros, local onde nascí. Esta maternidade anos depois, por informações, encerrou as atividades.
-Por alguns anos residí na Rua Ipanema, numa vila em frente a uma fábrica de chocolates, famosa na época, de nome Gardano.
-Saudades do Centro de Assistência Social Bras-Mooca, escola localizada na Rua João Caetano, onde fiz o pré-primário, ao concordar em permanecer dentro da escola sem chorar, em tróca de uma maçã.
-Na época uma maçã era considerada uma fruta de luxo, onde convivíamos todos os dias com a tal banana nanica, adquirida no armazém do Sr. Almeida.
-Nesta fase da vida aprendi a ler e a escrever, a pilotar os carrinhos de rolemã, a correr atrás de balões, empinar pipas, jogar bolinhas de gude, participar de peladas nos campinhos do Distrital, jogar bafo onde a figurinha da vez era a carimbada, como sonhei um dia existir o Papai Noel.
-Muitas saudades quando da inauguração das piscinas do Distrital da Mooca (1959), onde aprendemos a nadar depois de muita água engolida naquelas lindas piscinas. Na época, a distribuição de armários para a guarda de pertences, no recinto das piscinas, era um armário para cada 4 pessoas, sendo estas pessoas conhecidas ou não, e nunca houve qualquer tipo de problema quanto ao extravio de pertences.
-Precisamente em junho de 1957, transferimos a nossa moradia para a Rua Virgílio de Freitas, uma das ruas bem atrás da Igreja São Rafael, junto ao Largo São Rafael.
-Que saudades do Grupo Escolar Osvaldo Cruz, onde desde cedo aprendemos em sinal de respeito a ficar em pé, com a entrada da professora na sala de aulas. Os boletins eram assinados mensalmente pelos nossos pais, os quais nos acompanhavam junto aos professores.
-O Hino Nacional, desde os primeiros dias de aula era decorado, sempre na ponta da língua.
-Saudades de quem, como eu, estudou no início dos anos 60 na Escola Técnica de Comércio Brasilux, onde ao final do curso, tínhamos como formação o Técnico em Contabilidade.
-Saudades dos mestres professores Ribeiro, Brigagão, Moreira, Issa Jaime, Amaral, Moscardine, Fuzzy, Jarbas, Guedes, Siqueira, nosso diretor Sr. Euclides Gonçalves e tantos outros mestres responsáveis pela nossa formação técnica.
-Saudades da nossa formatura do curso de contabilidade, onde o baile foi no salão do Clube Aeroporto, e a missa, na Igreja de São Rafael, rezada pelo Padre Valentim, o mesmo padre responsável pela minha primeira comunhão, pela minha primeira confissão e pelo meu casamento.
-Saudades dos filmes imortais da época como os filmes Trapézio, Marcelino Pão e Vinho, os quais assistí umas 20 vezes, pelos cines Moderno, Icaraí (depois Ouro Verde) e Safira, este último na Rua do Hipódromo, o maior cinema até então, em nosso bairro.
-Que saudades dos tempos onde aos sábados à tarde, assistíamos os jogos na Rua Javari, vendo bem de perto tantos ídolos famosos, e a noite, o programa era comer uma pizza na Pizzaria São Pedro, ou como também, comer esfihas na Casa de Esfiha Juventus, lá na Rua Visconde de Laguna.
-Tudo isto quando não tinha algum casamento num dos salões do Clube Atlético Juventus (na rua Javari) pois, quando havia algum casamento a história era outra.
-Eventualmente nas festas de casamentos, nos salões do Clube Atlético Juventus (na rua Javari) o programa era mais do que completo, pois comíamos à vontade e dançávamos a noite inteira, e, por incrível que possa parecer, mal sabíamos quem eram os noivos quem estavam se casando e as respectivas famílias. Era tudo por conta do porteiro Sr. Beccaris, nosso amigão, que permitia a nossa entrada na festa “extremamente na surdina”.
-O desafio maior era abraçar o noivo e a noiva, evidentemente com os votos de um feliz casamento e, a partir daí, aproveitávamos ao máximo a comida e o baile, porque o dinheiro na época era por demais de curto.
-O que fazíamos era pecado…???
-Claro que não, pois na missa das 9h aos domingos, após a confissão do suposto pecado ao Padre Valentim, recebíamos o perdão, a absolvição (onde a punição pelo suposto pecado era de se rezar em média, umas 10 Aves Maria e uns 5 Pais Nosso) e tudo se repetia no próximo casamento…!
-Quem não se lembra no início dos anos 60 da lojinha do Capitão 7 (Sr.Aires Campos) ficava bem em frente ao Grupo Escolar Osvaldo Cruz, onde todos na época disputavam um autógrafo deste herói da TV Record. E eu consegui em meio a forte emoção, ao conhecê-lo, o meu autógrafo do famoso Capitão 7, é claro…!
-Saudades também no início dos anos 60, da inauguração da Loja de Calçados Bari, exatamente no número 2414 da Rua da Mooca, bem ao lado do antigo prédio da Ótica América.
-A Loja Bari na época, foi a primeira loja de calçados em nosso bairro, a se apresentar com vitrines partindo do piso até o teto. As vitrines das lojas de calçados antigamente, sempre partiam de uma altura em relação ao piso, aproximadamente de 1,20 metros.
-Foi exatamente nesta Loja de Calçados Bari, trabalhando como vendedor, que calcei sapatos numa menina que sempre vinha com sua mãe e irmãs para comprar calçados. Coincidência ou destino da vida, esta menina um dia tornou-se a minha esposa, onde no próximo mês de janeiro de 2011, estaremos completando 39 anos de união.
-Que saudades da Indústria de Calçados Nicoletti, na Rua de Hipódromo, 1531, lá onde meu falecido Pai, construiu a sua brilhante carreira de forma honesta e competente, tornando-se exemplo e lema de vida aos seus filhos.
-Lembro-me com detalhes num certo sábado (a indústria tinha anexa uma lojinha, onde atendíamos os amigos na venda de calçados) e lá que apareceu o famoso cantor da jovem guarda Bob de Carlo (o cantor da música Tijolinho, sucesso da época) e as fãs do cantor, num tumulto generalizado na Rua do Hipódromo, quase derrubaram a fábrica, pela busca de autógrafos deste famoso cantor.
-Que saudades dos bailes de carnaval do Juventus, nos salões da rua Javari, onde famílias inteiras lá se reuniam e juntos nas matinês, brincávamos a tarde inteira.
-Na época o lança-perfumes, as serpentinas e os confetes davam o tom ao carnaval, sem maldades e sem prejuízos a ninguém.
-Que saudades da época de Natal na Rua da Mooca, a qual no mês de dezembro recebia dos lojistas uma iluminação toda especial, como se fosse um verdadeiro presépio. E a Rua da Mooca realmente ficava um presépio.
-Sempre na véspera do Natal, no final do expediente, naquela época se trabalhava até as 23 horas do dia 24 de dezembro, todos os lojistas e seus funcionários, como num ritual, se abraçavam e trocavam os votos de um Feliz Natal.
-Aqui destaco instituições comerciais famosas na época, onde algumas sobrevivem até hoje, instaladas na Rua da Mooca e imediações :
Doceria Irmãos Di Cunto, Doceria Modelo, Açúcar União, Cia. Antártica Paulista, Cotonifício Crespi, Máquinas Piratininga, Calçados Clark, Indústria de Calçados Nicoletti, Estamparia João Pires, Açúcar Pérola, Tanoaria Labate, Pizzaria Estoril, Pizzaria São Pedro, Casa de Esfiha Juventus, Loja de Calçados Bari, Loja de Calçados Ivo, Loja de Calçados Falgetano, Relojoaria Mário Previatto, Relojoaria Ouro Verde, Ótica América, Café Sucesso, Loja de Móveis Prolar, Loja de Tecidos Santa Terezinha, Camisaria Levy, Loja Prelude Modas, Colégios Osvaldo Cruz, Firmino de Proença, MMDC, Brasilux, Santa Catarina, Armando Araújo, São Judas Tadeu, Loja de Móveis Kelar, Mercado da Mooca, Pronto Socorro Paes de Barros, Panificadora Luzitana, Teatro Arthur Azevedo, Auto Escola Irmãos Gragnano, Pastelaria da Mooca (1ª. pastelaria do bairro, localizada na Rua da Mooca em frente a Visconde de Laguna), cines Moderno, Icaraí (depois Ouro Verde), Safira, Patriarca, Roma, Concessionária de Automóveis Primo Rossi, Alpargatas, Clube Atlético Juventus e tantos outros estabelecimentos comerciais, de igual importância.
-Não posso esquecer de mencionar as Igrejas de São Januário, Bom Conselho e São Rafael.
-Que saudades de um tempo onde prevalecia a verdadeira simplicidade nas pessoas e nas atitudes, onde não havia tanta maldade, e, onde imperava o verdadeiro respeito aos usos e costumes do seu semelhante.
-Sem qualquer cunho demagógico, pois a idade não me permite mais isso, mas quem tem no sangue o Bairro da Mooca, com certeza absoluta afirmo, teve a juventude mais dourada de uma geração, entre tantas.
-É com muita satisfação e alegria que eu registrei um pedacinho de uma época dourada a qual eu vivi, com muito orgulho, no meu velho e querido Bairro da Mooca.
-Saudações aos Mooquenses………..Ôrra Meu…!
Jefferson P. Alcantarilla