Quem possui mais de 35 anos e viveu os tempos em que São Paulo era conhecida como a “terra da garoa” deve lembrar, certamente com saudades, dos bondes que circulavam pelo bairro da Mooca que, por muito tempo, era o único meio de transporte coletivo que dava acesso a outras localidades. Aliás, a Mooca foi um dos primeiros bairros de São Paulo a receber essa benfeitoria.
A HISTÓRIA DO BONDE
Tudo começou em 2-10-1872 quando a “Companhia de Carris de Ferro de São Paulo” inaugurou o sistema de Diligências por Trilhos de Ferro” (bondes) de tração animal, ligando o centro da cidade às plataformas das estações de trem e os subúrbios. E esta foi a segunda linha de bondes da Província de São Paulo. A primeira foi na cidade de Santos. E assim começaram a surgir novas idéias sobre ligações entre bairros próximos e as vilas mais distantes.
A palavra “bonde” surge em 1872 e sua origem se deve ao fato de que na época as passagens custavam 200 Reis, mas não existiam moedas deste valor em circulação. Em vista disso, a empresa emitiu pequenos cupons ou bilhetes em grupo de cinco, pelo preço de um mil reis, pois existiam grande quantidades de cédulas deste valor em circulação. Os bilhetes (ricamente ilustrados) impressos nos Estados Unidos, eram conhecidos como “Bonds” (Bônus, Ação). A própria empresa denominava bond os cupons, por entender que realmente representava o compromisso assumido de, em troca, transportar o portador em um de seus veículos. Com o tempo o povo passou a denominar o próprio carril de ferro urbano como bond, designação que mais tarde se consagrou com o neologismo “bonde”.
Desde a sua implantação, os bondes paravam mais ou menos próximo a casa de cada “freguês”, ou seja bonde parava onde o freguês queria. Em 1924 surgem os “postes” com a cinta branca, os quais significavam um ponto de parada do bonde.
Em 1897 as estações dos bondes de tração animal e suas direções na cidade de São Paulo eram as seguintes:
1ª) Estação Largo do Rosario para: Rua Amador Bueno, Alameda do Triunfo, Alameda Glete, Avenida Paulista, Beneficiencia, Alameda do Triunfo, Bom Retiro, Jardim da Luz, Cesario Mota, Estação Guayanazes, Hygienopolis, Ponte Grande, Santana, Santa Cecilia, Rua Das Palmeiras, para o Viaducto, Rua Vitória, Santa Cecilia e Ypiranga.
2ª) Estação Largo do Rosario para: Bras, Consolação, para o Viaducto, Imigração, Hipodromo, Liberdadse, Mooca, Norte, Rua Miller, Vila Buarque.
3ª) Estação Largo da Sé para: Cambuci, Ypiranga, Vila Deodoro.
4ª) Estação Rua 25 de Março para: Cambuci, Jardim, Mooca.
5ª) Estação Mercado Velho para: Braz, Imigração, Mooca, Norte, Oriente.
6ª) Estação Mercadinho São João Para: Rua Santo Antonio, Rua Conselheiro Ramalho.
A partir de 1938 começaram a circular os bondes fechados, pesados e pintados de vermelho. Foram batizados de “Camarão”. Havia também o “Jacaré”, um bonde todo verde que fazia a linha para Santo Amaro Em 1963 os bondes mudaram de cor, passando de vermelho para uma tonalidade laranja, que, lembrando um dos refrigerantes da época, foram apelidados pelo povo de “Crush”‘.
A adoção do Bonde “Camarão” mudou completamente a fisionomia da cidade, sua introdução foi motivo de pilhéria entre a população, mas o veículo foi aceito e inicialmente fez sucesso. Mas o encanto se desfez pelo hábito: viajar em um veículo fechado nos dias quentes com os veículos superlotados virou um martírio para o paulistano que viajava como “sardinha em lata” dentro dos pesados e sufocantes “Camarões” projetados para trafegar no frio Canadá.
Em função do Decreto por parte do Governo Federal, a Light prosseguiu operando os bondes até 18 de junho de 1947, quando foi instituído o monopólio dos transportes coletivos na Capital. E os bondes da Light foram transferidos para a CMTC. Em 47 anos de atividades a Light transportou em seus bondes aproximadamente 8 bilhões de passageiros, em 300 quilômetros de linhas operadas por 587 bondes de diversos tipos.
Para administrar o monopólio foi criada a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos). À zero hora do dia 1 de julho de 1947, a CMTC assumiu a operação de todo o sistema de bondes e ônibus da cidade de São Paulo. Trinta dias após em 1 de agosto, a primeira providencia da CMTC foi aumentar o preço da tarifa de 200 Reis que já perdurava por 38 anos sem aumento. A CMTC passou a passagem para 500 Reis. Foi um caos Os passageiros se revoltaram nas ruas, bonde e ônibus foram queimados. A população tentou atacar a prefeitura.
Os bondes da Mooca foram substituídos por ônibus diesel em 1958. Na década de 60 teve início a sistemática extinção de linhas e os serviços foram ficando precários e deficientes. Era o fim de um transporte barato e não poluidor. Dos velhos bondes paulistanos só restam poucos exemplares em museus.
Aos 27 de março de 1968 na estação de bondes da Vila Mariana, o bonde camarão número 1543 recebe todas as atenções: era anunciada a “Cerimônia do Adeus”. À tardinha é conduzido até a parada Instituto Biológico, onde já havia intensa movimentação de pessoas vindas de todos os cantos da cidade. A linha Biológico-Santo Amaro (antiga Praça da Sé – Santo Amaro) era a última linha de bondes em operação na cidade de São Paulo.
Por volta das 20h00, o 1543 parte em direção ao bairro de Santo Amaro. A comitiva de 12 bondes, todos lotados de populares, sendo que no 1543 encontravam-se o Prefeito Faria Lima e o Governador Abreu Sodré.
Nas paradas Campo Belo e Alto da Boa Vista receberam homenagens. O fim da viagem de ida aconteceu no Largo 13 de Maio, onde perto de 5.000 pessoas aplaudiram a chegada dos bondes. Após os discursos e despedidas, a comitiva retornou para Vila Mariana. E esta foi a última vez que os bondes percorreram as ruas de São Paulo. E assim terminaram 96 anos de serviços dos bondes na cidade de São Paulo.
Os bondes na Mooca
Durante o período em que os bondes estiveram em atividade, a Mooca era atendida por três linhas , que mantinham os seguintes itinerários :
BONDE 8 : MOOCA
IDA: Pça. Clóvis Bevilaqua, Rua Roberto Simonsen, av. Rangel Pestana, Rua Piratininga,
Rua da Mooca, Rua taquari e Rua Javari. VOLTA : Rua Javari, Rua Visconde de Laguna
Rua da Mooca, Rua Piratininga, Av. Rangel Pestana, Rua Roberto Simonsen, Rua Wenceslau Brás, Rua Irmã Simpliciana e Pça Clovis Bevilaqua.
BONDE – 11: BRESSER
IDA: Rua Bresser, esquina da Celso Garcia, Rua Silva Teles, Rua Maria Marcolina, Rua Oriente, Rua Monsenhor de Andrade, Rua São Caetano, Rua da Cantareira, Rua Cavalheiro Basílio Jafet, Av. Exterior, Pça. Fernando Costa, Rua 25 de Março, Rua Frederico Alvarenga, Rua da Mooca, Rua Taquari e Rua Javari. VOLTA: Rua Javari, Rua Visconde de Laguna, Rua da Mooca, Rua Frederico Alvarenga, Rua 25 de Março, Pça. Fernando Costa, Av. Exterior, Rua Cavalheiro basílio Jafet, Rua da Cantareira, Rua São Caetano, Rua Monsenhor de Andrade, Rua Oriente, Rua Maria Marcolina, Rua Silva Telles e Rua Bresser.
BONDE – 50 : BORGES DE FIGUEIREDO (Auxiliar Bresser).
IDA: Pça. Fernando Costa, Rua 25 de Março, Rua Frederico Alvarenga, Rua da Mooca e Rua Borges Figueiredo até o poste 752. VOLTA: Rua Borges Figueiredo, Rua da Mooca, Rua Frederico Alvarenga, Rua 25 de Março, e Pça. Fernando Costa.
Os bondes na Mooca
Durante o período em que os bondes estiveram em atividade, a Mooca era atendida por três linhas , que mantinham os seguintes itinerários :
Além dessas havia também uma linha que circulava pela Rua Visconde de Parnaíba, passando em frente à Hospedaria de Imigrantes, que funcionou de 18 de outubro de 1902 a 5 de dezembro de 1937, com 5 carros percorrendo quase 9 quilômetros de trilhos.
Nos dias atuais, ainda existem linhas de bonde, modernizadas, em várias capitais das Europa. Na cidade de São Paulo, ainda se consegue andar de bonde em uma linha turística, embora no curto percurso de 600 metros.
O Bonde Nº 38, – da fábrica inglesa Hurst Nelson, ano 1912 – tipo aberto, faz o trajeto Memorial do Imigrante – Estação Bresser do Metrô, por trilhos sobre o leito da Rua Visconde de Parnaíba, sendo que o mesmo foi totalmente recuperado nas Oficinas da Estrada de Ferro Campos do Jordão, de acordo com seus padrões originais: aberto nas laterais, com bancos em madeira de lei reversíveis e capacidade para 35 pessoas. Somente o sistema de tração e freio foram modificados . Para saber o horário de funcionamento ligue para o Memorial do Imigrante – fone 6693–0917
