O Campo dos bois – Marcio Luiz Donato
Embora tenha nascido na rua Guaratinguetá, numa vila onde morou o maestro Élcio Álvares, passei grande parte de minha infância e adolescência morando em um sobrado na rua da Mooca quase esquina com Rua Itaqueri, isso nas décadas de 60 e 70. Próximos de casa havia três campos de futebol de várzea e vários terrenos anexos que no conjunto eram chamados de “Campo dos Bois”. Não me recordo porque esse local era assim chamado. O importante é que assisti muitas partidas de futebol, que não me saem da memória, além de toda a história que envolveu aquele local.
Como comentei acima, o complexo “Campo dos Bois” era formado por três campos de futebol. Chamarei de campo 1 àquele que ficava em paralelo à rua Itaqueri; de campo 2 àquele do meio e de campo 3 àquele que ficava em perpendicular à rua Fernando Falcão.
Grandes times e grandes jogadores, autênticos craques, proporcionavam partida de futebol em nível técnico muito melhor do que alguns jogos que temos visto ultimamente.
Trago na minha lembrança que aos sábados pela manhã poucos times jogavam naqueles campos, mas nenhum time ficou gravado em minha memória.
Ao contrário, no Sábado à tarde , lembro-me muito bem dos times que ali jogavam: no campo 1 mandava seus jogos um time chamado inicialmente de Viana do Castelo e posteriormente Brasília. Seu técnico era uma pessoa de família tradicional da Mooca, senhor Bastiglia e até hoje encontro um de seus goleiros, Gregório e um zagueiro chamado Tatão. Se não me engano, desse time saiu um jovem médio volante, Maurinho, que jogou no time profissional do Juventus.
No campo 2, jogava o time mais concorrido na época, o Botafogo. Quero acreditar que presenciei em alguns sábados tamanha quantidade de público assistindo aos jogos do Botafogo que superlotaria o campo do Juventus na rua Javari.
O time da Metalúrgica Rio jogava no campo 3, completando os times do Sábado à tarde.
No Domingo, jogava no campo 1 um time formado por japoneses ou nisseis chamado Tobu. Dificilmente o Tobu, embora mandante do campo, ganhava uma partida, considerando-se primeiro ou segundo quadros. Cheguei a jogar no Tobu, mas era um jogador tão medíocre que nem para esse time servia. Não posso me esquecer que antes do Tobu, jogava bem cedo um time juvenil chamado Santos Futebol Clube, obviamente com a camisa idêntica ao time profissional.
No campo 2, jogava o Paschoal Moreira, com seu uniforme alaranjado, do inesquecível lateral direito Jaú (as canelas dos adversários que digam), da sua raça; da elegância do goleiro Bojão e do toque refinadíssimo de Baltazar, um meia de extrema categoria.
Bem cedo pela manhã, um verdadeiro celeiro de craques juvenis jogava no campo 3, o time com uniforme idêntico ao da seleção brasileira chamado CBD, de onde me lembro de Marinho e outros jogadores.
Após o CBD, inicialmente Urano e posteriormente Grêmio Urano jogava no terceiro campo e quem viveu essa época não esquece de Vicentinho, do goleiro Luís, o goleiro reclamão Rafael, do zagueiro Wilson, do centroavante Julinho e até meu irmão lateral esquerdo Dinho.
Duas ou três vezes ao ano acontecia o clássico Paschoal Moreira versus Urano e num desses jogos pude presenciar um gol-de-bola-e-tudo feito por Kosilek, centroavante do Grêmio Urano, que chegou ao time profissional do Corinthians.
Recordo-me com muita emoção e saudade dos Gatos, Rubinhos, Kid , Montes que jogavam muito e tornavam nosso fim de semana mais alegre e jamais esquecerei desses tempos.
Além, dos campos de futebol, havia muito espaço livre, onde jogávamos as famosas peladas, inclusive os “contras” por exemplo rua da Mooca versus Rua dos Campineiros, Rua dos Trilhos versus Campineiros.
Também não poderia de deixar de comentar a barraquinha do Valter, onde tinha uma batatinha temperada que nunca mais comi igual além da famosa raspadinha (gelo raspado com groselha ou outros xaropes).
Infelizmente esses campos já não existem mais, como muita coisa da Mooca, mas quem viveu essa época vai concordar comigo que ali era um local fantástico.
Marcio Luiz Donato