FAMÍLIA FREGNANI

Marcos Fregnani Martin não é muito conhecido na Mooca, até porque daqui saiu muito jovem vivendo na Alemanha já há 20 anos, mas é conhecido em muitos lugares do mundo, pois é um dos principais nomes da flauta no cenário erudito internacional, fazendo parte da Orquestra Sinfônica de Bamberg (Alemanha), considerada uma das melhores orquestras européias e professor de flauta da Escola Superior de Música de Nürnberg, também na Alemanha.

Contatado via internet pelo “Portal da Mooca”, nosso artista foi de uma extrema gentileza colocando-se a inteira disposição para uma entrevista que aqui divulgamos, usando seu próprio relato :

Marcos Fregnani Martin não é muito conhecido na Mooca, até porque daqui saiu muito jovem vivendo na Alemanha já há 20 anos, mas é conhecido em muitos lugares do mundo, pois é um dos principais nomes da flauta no cenário erudito internacional, fazendo parte da Orquestra Sinfônica de Bamberg (Alemanha), considerada uma das melhores orquestras européias e professor de flauta da Escola Superior de Música de Nürnberg, também na Alemanha.

Contatado via internet pelo “Portal da Mooca”, nosso artista foi de uma extrema gentileza colocando-se a inteira disposição para uma entrevista que aqui divulgamos, usando seu próprio relato :

Meus pais, quando se casaram, em 1957, moravam na Rua Padre Raposo, rua onde também moravam meus avós maternos, mas logo que nasci mudaram-se para a Rua Bixira, 123, casa 11. Era uma vila, onde moramos 8 anos. Foi uma infância muito saudável. Muito espaço para brincar, com muitas crianças, com as quais até hoje tenho um bom contato de amizade. Depois meus pais se mudaram para Rua Prof Oliveira Fausto, próximo à rua Isabel Dias. Éramos vizinhos de meus tios-avós (do lado paterno) que ainda lá moram. Em seguida construíram uma casa na Rua Cristianópolis, onde moramos 8 ou 10 anos. Minha irmã se casou, eu já não morava em casa, pois fui estudar arquitetura em Santos. A casa era grande demais para meus pais e eles se mudaram para um apartamento atrás do Juventus. Como se vê, muitas mudanças de casa, mas nunca fóra da Mooca.

Marcos Fregnani Martin
Arquivo: Família Fregnani Martin

Marcos com os pais
Arquivo: Família Fregnani Martin

No que diz respeito aos estudos, o pré e primeiro ano foram no Externato São Rafael (na minha última viagem encontrei a minha primeira professora, Dona Zina, depois de 35 anos ela ainda lembrava-se de mim. Belo momento!). Terminei o primário no Grupo Escolar Prof André Xavier Galixo (Dona Marly de Salles Tucci era a minha professora). Me diverti estar aqui relembrando dessas coisas…Boa maneira de passar um domingo…Depois fui para o ginásio e colegial no Prof Antonio Firmino de Proença.

Estimulado pelos meus pais, comecei a aprender música no Externato N.S. Menina. Era um colégio de freiras exclusivamente de meninas…O Joaquim e eu éramos as exceções, os “benditos entre as mulheres” como as freiras mesmo diziam. Continuei os estudos no Conservatório Ernesto Nazareth até me formar em piano, enquanto já tinha aulas de flauta na Escola Municipal de Música de São Paulo, que era na Rua do Glicério….,quase no exterior…!

Eu tenho muitas agradáveis recordações da Mooca, que sempre vêm em minha lembrança. A Vila da Bixira é um marco. Lá ainda vivem pessoas queridas (os De Callais, por exemplo). O Clube Atlético Juventus também foi muito importante : as atividades esportivas, natação e tênis, as domingueiras, as festas juninas, o barbeiro e etc. Antes disso, tinha a “barroca”, que era um campo de futebol próximo ao Hospital João XXIII onde jogávamos bolinha de gude, pião e empinávamos papagaio com meu pai. O Teatro Arthur Azevedo, o Cinema Ouro Verde…esses eram os locais de atividades. Os restaurantes era o Pirpir na Rua Jumana, a Pizzaria São Pedro, o Di Cunto e a Trilha mais recente, continuam na minha lista de preferidos. A minha primeira discoteca foi a Archote.

Devo o que sou a educação que meus pais me deram, às escolhas que fizeram por mim e ao caminho que me ensinaram. Esse caminho passou por muitas ruas da Mooca. Depois os caminhos foram se alargando, se alargando e me levaram a uma “extensão” da Mooca que chegou até a Itália, a Espanha e agora, por que não, a Alemanha. Eu estou morando em Bamberg, que é uma cidade na Franconia, Baviera, a 60 km ao norte de Nurnberg, com uma história que vem desde o século IX, universitária e conta hoje com cerca de 80 mil habitantes, ou seja, menor que a Mooca! Quando recentemente estive na Mooca, vi muitas grades nas casas do Bairro. Acho que hoje aí quase tudo acontece nos salões de festas dos edifícios e nos buffets fechados, protegidos por policiais…Na semana passada tivemos aqui na minha rua uma festa de vizinhos bem à maneira antiga, com cadeiras na calçada, bom vinho, risadas, músicas,etc. Lembro disso na minha infância

Marcos com Prof. Zina, na formatura do pré-primário
do Externato São Rafael em 1.968
Arquivo: Família Fregnani Martin

Marcos (assinalado em azul) no 3º ano do Grupo Escolar Prof. André Xavier Galixo,
por volta de 1.970, classe da Prof. Marli de Salles Tucci.
Arquivo: Família Fragnani Martin

Quando para cá vim, minha adaptação não foi nada difícil. Vim com uma bolsa de estudos do governo alemão para estudar por dois anos e já lá vão quase 20. Ao contrário do que se costuma dizer a respeito dos alemães que são distantes e frios, minha experiência aqui foi bastante diferente. Gosto das pessoas, gosto do mútuo respeito, conheço muitas pessoas com que posso contar e que contam comigo, admiro a disciplina, a competência e o funcionamento das coisas. Claro que há exceções. Gosto da comida alemã, mas se sentir saudades dos gostos da Mooca, tenho aqui uns restaurantes onde, além de matar saudades do paladar, posso falar em italiano ou espanhol quase como em casa. Gosto muito do clima que para muitos brasileiros pode ser um pouco frio, mas é fantástico viver estações do ano tão diferenciadas cada uma com suas características, com suas cores, sabores e atividades próprias.

É evidente que sinto falta da minha gente, de algumas frutas, etc. Também de algumas coisas que deixaram de existir e que agora ficam registradas na memória, em discos e fotografias (a casa dos meus avós na Rua Isabel Dias, por exemplo, que virou uma choperia). Muita coisa mudou também no nosso bairro, mas ainda há algumas características que seria uma pena se ficassem perdidas (a arquitetura do imigrante, o “dialeto” mooquense, etc)

Faz alguns anos publiquei um trabalho intitulado “Relíquias de uma Cultura Européia” que trata de valores culturais (especificamente musicais) que eram encontrados em quase toda a Europa, cada um com suas características próprias e que com o tempo foram desaparecendo e hoje em dia só são encontrados em poucos lugares, depois de muito esforço para a recuperação e manutenção dos mesmos.

Dei-me conta da importância desses valores e sinto algum desapontamento quando vejo uma espécie de “globalização” também no nosso Bairro…Por isso acho importante essa iniciativa de preservar a história da Mooca. Mas deve ser sinais dos tempos, ou então sinal de que também estou ficando velho…

Quanto ao meu futuro, ainda tenho muito o que fazer por aqui, mas tenho a intenção de voltar mais freqüentemente ao Brasil. Quero desfrutar mais da minha família e quero retomar também meus contatos que ficaram quase que abandonados nestes últimos anos. Graças a Deus tive muita sorte por aqui e quero levar para aí e partilhar um pouco da minha experiência adquirida.”

Esta é a história, quase uma auto-biografia, do grande artista Marcos Fregnani Martin, um orgulho da Mooca.

Marcos com alunos da Escola Superior da Musica de Nürnberg.
Arquivo: Família Fregnani Martin

Marcos com a irmã Ligia e os vizinhos de Callais
Arquivo: Família Fregnani

* entrevista concedida em setembro/2003