Quando o padre Pasquale Priolo da paróquia de São Januário (San Gennaro, em italiano) nos disse que apresentaria uma pessoa para contar a respeito da história da festa, não poderíamos imaginar que teríamos o prazer de falar com um dos principais responsáveis pela criação da Festa, hoje em sua 29a. edição é uma das maiores festas populares de São Paulo..
Exatamente no horário marcado, adentrou a igreja o nosso entrevistado, sr. Afonso Iervolino, acompanhado de sua esposa sra. Carlota de Lourdes Iervolino e de muitos documentos históricos da festa.
Minha mulher era freqüentadora da missa já há mais de 30 anos e o padre Esvegio pediu que ela levasse uma folha de rifa para eu assinar, mas eu vi que ainda ninguém tinha assinado essa rifa . Decidi sair para dar uma voltinha e em dez minutos os meus amigos tinham preenchido toda a rifa
Surpreso, o padre Esvegio se entusiasmou, mandou me chamar e me convidou para formar uma comissão para coordenar a arrecadação de recursos para as reformas da igreja. Nós conseguimos formar uma comissão, da qual fizeram parte, dentre outros, o meu irmão Angelo, o padre Geraldo Cintra da igreja Dom Bosco, o irmão dele que era juiz de direito e começamos a fazer as reuniões para ver como conseguir um jeito de arrecadar dinheiro.
Foi tão interessante o seu relato, que vamos nos restringir a transcrever exatamente as suas palavras :
“Em 1973, o Padre Esvegio Consilio disse aos paroquianos que a Igreja de San Gennaro precisava de recursos para arrumar o telhado, pois chovia muito dentro da igreja e ele não sabia como fazer para arrecadar algum dinheirinho, pois havia necessidade de muitas telhas e muita mão de obra
Reuniões e mais reuniões; uns vinham e diziam que seria bom fazer leilão, outros fazer mais rifa, livro de ouro, mas tudo isso não ia arrecadar o necessário, pois precisava de muito dinheiro para reformar a igreja. Até que numa das noites, após a reunião que se estendeu até as 22 horas, paramos aqui na porta da igreja e acho que uma luz que veio do céu fez com que eu olhasse para cima. Olhei para cima e falei para o pessoal (estávamos em oito ou dez): já sei como arrecadar dinheiro, nós vamos começar a fazer a Festa de San Gennaro em homenagem ao Santo de nossa igreja e a festa será no mês de setembro que é o mês dele. Imediatamente começamos a trabalhar para a festa e sempre pedindo para que não dissessem que era quermesse, que era a Festa de San Gennaro.
O começo foi muito duro. A gente pedia panelas emprestadas, madeira para fazer barracas, fomos no Colégio Salesiano que nos emprestava muitas coisas. Assim, graças a ajuda de muitas pessoas, conseguimos realizar a festa no mesmo ano no mesmo local onde hoje é realizada, ou seja, na Rua Niterói que depois, por nossa sugestão, teve o seu nome alterado para rua San Gennaro, que permanece até hoje. No terceiro ano a família me proibiu de continuar devido a problemas de saúde, sendo, no entanto, substituído por meu irmão Angelo Iervolino, que ficou oito anos à frente da festa.
Nos primeiros anos as comidas eram feitas pelas paroquianas em suas próprias casas, para depois serem levadas para a festa. Atualmente tudo é feito na própria igreja, que já dispõe de uma cozinha adequada, mas as comidas continuam a ser preparadas pelas mulheres da comunidade, quase metade delas colaboradoras desde os velhos tempos. Mas muita gente jovem tem se agregado a elas.
Nos primeiros anos a festa era freqüentada exclusivamente pelos paroquianos e amigos, mas ano a ano essa freqüência foi aumentando, sendo oficializada pela Prefeitura e integrando o calendário oficial de eventos da cidade. Hoje excursões de todo o Brasil vêm usufruir a festa. A previsão para este ano é de 150.000 pessoas freqüentando a festa em seus cinco finais de semana.
Além daqueles já citados, deve-se reconhecer que o sucesso alcançado pela festa deve muito a pessoas como Pasqual Cataldi, o jornalista Paulo Helene de Paula, Gilberto Evangelista, Armando Dariezzo, Vicente Raiolla, Arnaldo Fierro, Francisco Pauletti e vários outros.
Os shows artísticos sempre foram também uma atração especial na festa. Nos três primeiros anos coube ao conjunto de Uccio Gaeta; nos dezessete anos seguintes coube ao maestro Zaccaro; no ano passado foi apresentada uma atração internacional : a italiana Mafalda Minozzi e neste ano a responsabilidade será dos “Três Tenores”, renomados cantores aqui da cidade de São Paulo.
Como nos anos anteriores, a festa espera arrecadar recursos visando dar continuidade às reformas necessárias, que vêm ocorrendo gradativamente longo dos anos e para a manutenção da creche mantida pelo Centro Comunitário.”
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
– Presidente da República sanciona Lei nº 15.205 que reconhece Festa de San Gennaro como manifestação da cultura nacional. Texto foi publicado no dia 15/09/2025 no Diário Oficial da União. Festividade em São Paulo é homenagem a São Januário, padroeiro do bairro da Mooca, na capital paulista.
– Em setembro de 2025 a festa da paróquia da Mooca teve o reconhecimento também por parte da Prefeitura de Napoles