Por iniciativa da família Crespi, em 18 de janeiro de 1936 era inaugurado o “Ninho Jardim Condessa Marina Crespi”, também conhecido como Creche Condessa Marina Crespi, destinada a atender até 300 crianças, filhas de operários.

Segundo o jornal “O Estado de São Paulo” o prédio era constituído de três pavimentos, amplas janelas, de arquitetura funcional e no centro de um esplêndido terreno. Na parte baixa, estava instalado o jardim de infância, destinado a crianças de 4 a 6 anos, com três magníficas salas, aonde serão ministradas as primeiras letras, o refeitório, a cozinha, a copa, o almoxarifado, o aposento dos empregados e dois vestiários: um para os meninos e outro para as meninas.

Ainda no andar térreo, a sala de espera das educadoras, a sala do médico e a residência do diretor do estabelecimento; no fundo, no pátio, um espaço com brinquedos adequados e uma piscina. No segundo andar, logo à direita da escadaria que lhe dá acesso, a sala da Condessa Marina Crespi, seguindo-se a sala dos professores e um local reservado de isolamento, destinado a acolher crianças suspeitas de qualquer moléstia contagiosa.

Este andar destinava-se a atender crianças de até três anos, com numerosas banheiras apropriadas, uma sala onde as mães pudessem amamentar seus filhos pequenos, uma sala de raios ultravioleta e infravermelho e a sala de berços para pequenos até um ano, que dá nome ao estabelecimento.

A sala dos berços dá para uma esplendia área, onde nos dias claros as crianças serão colocadas em berços de lona para o banho de sol. No terceiro pavimento, numa sala toda envidraçada, as crianças brincarão nos dias de chuvas, quando parque infantil não puder ser utilizado.

O quadro de pessoal era composto de um médico diretor, um médico, duas educadoras sanitárias, quatro professoras e empregados. Estiveram presentes na inauguração da creche, além da família Crespi, Fábio da Silva Prado, prefeito da Cidade de São Paulo, acompanhado da esposa Renata Crespi Prado, Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo metropolitano, o cônsul José Castruccio, que também representava o embaixador da Itália e o arquiteto Giovanni Bianchi.

Com o encerramento das atividades do Cotonifício Crespi em 1963, a creche foi ocupada pela Associação Montessori, de 1969 até 1997, o Colégio Meta e até poucos anos atrás, vinha servindo de creche da prefeitura e sede da Fundação Ninho Jardim Condessa Marina Regoli Crespi.

No entanto, em 2010, ao vencer o contrato com a prefeitura, o imóvel ficou inutilizado e assim, serviu de abrigo para moradores de rua, um total de 56 famílias, que acabaram destruindo toda a antiga estrutura do prédio histórico. A Associação Santo Agostinho, que é a atual proprietária do imóvel, entrou com pedido de reintegração de posse e conseguiu retirar os moradores somente em 2013, quando o imóvel já estava semidestruído. Os invasores não se limitaram a apenas invadir o prédio mas também arrancaram e levaram portas, janelas e tudo aquilo que pudesse ser retirado.

O TOMBAMENTO DO IMOVEL

Em sessão do dia 29 de junho de 2010, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo- CONFRESP:

Considerando o valor arquitetônico da edificação conhecida como Creche Marina Crespi, localizada no bairro da Mooca, projetada pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi e construída em 1933, para a fábrica de tecidos Cotonifício Crespi, que se constitui em significativo exemplar da arquitetura art-deco e moderna em São Paulo, em especial da influência dos arquitetos de origem italiana, conforme documentado em pesquisas especializadas;

Considerando o valor histórico desse imóvel que, por mais de 70 anos, abrigou funções sociais e educacionais, inicialmente vinculadas aos trabalhadores das indústrias Crespi, e posteriormente atendendo à população em geral dessa região;

Considerando o perceptível estado de abandono a que está relegada por seus proprietários, com sinais de vandalismo e deterioração, que podem levar à perda desse bem arquitetônico;

Decidiu abrir o processo de tombamento do prédio da antiga Creche Marina Crespi, processo esse que se estendeu até 2017 quando, em sessão realizada em 06/12/2017, o COMPRESP sacramentou, por unanimidade, o tombamento do Edifício da Creche Marina Crespi, localizado na Rua João Antônio de Oliveira, 59.

Em seu parecer, a relatora Adriana Ramalho justificou a aprovação com a seguinte argumentação: “De arquitetura singular e com traços modernizadores para o período das primeiras décadas do século XX em relação ao que vinha sendo produzido em São Paulo e no Brasil. Mesmo tendo sofrido alterações parciais ao longo dos anos, o edifício manteve os principais traços do projeto original do arquiteto italiano Giovani Bianchi. Além da arquitetura em si, o imóvel tem uma representatividade histórica no que tange ao processo de democratização do ensino a partir da década de 1930. Em que pese o pano de fundo que pautava a educação pré-escolar da época, uma espécie de “projeto civilizatório” das camadas mais pobres da população, a creche é símbolo também do crescente processo de industrialização da cidade, aumento do operariado feminino, a multiplicação de escolas e redução das taxas de analfabetismo”

História inserida em 01/10/19

Lamentavelmente, atualmente a situação do prédio é indefinida, sendo que da arquitetura original restaram praticamente só as paredes.