Você já deve ter visto fotos publicadas com a legenda “casa (ou fábrica) bombardeada na revolução de 1932”

De maneira geral, os paulistanos confundem os eventos ocorridos na cidade de São Paulo durante a revolução de 1924 e os da Revolução Constitucionalista de 1932.

Não se tem registro de combates, na cidade de São Paulo, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, deflagrada em 9 de julho e durou até 2 de outubro daquele ano contra o ditador Vargas, sendo apoiada pela maioria do povo paulista, com adesão de mais de 72.000 voluntários e de todas as unidades militares estaduais e federais sediadas no Estado e com apoio civil em todas as atividades de logística.

Os combates foram acirrados e milhares de baixas em todas as regiões do Estado. O teatro de operações foi principalmente nas regiões fronteiriças do estado de São Paulo, notadamente em Vale de Paraíba, Serra da Mantiqueira, Vale do Ribeira, Região de itararé e Campinas.

Na Revolução de 1924, por outro lado, o trauma foi enorme para a população civil paulistana que não estava envolvida com o movimento militar.

A revolta foi deflagrada por oficiais militares do Exercito Brasileiro e da Força Pública Paulista (denominados como Os Tenentes) na Capital paulista, por descontentamento com a política do então Presidente da República, Arthur Bernardes. Os combates na capital duraram 23 dias ( de 5 a 28 de julho de 1924) e continuaram após isso no interior do Estado.

Nesse episódio histórico, o movimento Tenentista deflagrou a revolta armada em comemoração ao 2º aniversário dos Levante dos 18 do forte de Copacabana, em 5 de julho de 1924 com a mobilização de parte das unidades militares da Capital, forçando a fuga do então Governador do Estado, Carlos de Campos.

A reação federal não tardou e as tropas enviadas para abafar o levante, postaram-se nas colinas do bairro da Penha, e de lá bombardearam a cidade de São Paulo.

Foram bombardeados os bairros fabris do Belém, Brás, Cambuci, Vila Mariana, Sé, Tatuapé e principalmente a Mooca, onde as tropas rebeldes haviam se entrincheirado na altura do atual Viaduto Bresser.

O bombardeio de artilharia e aéreo atingiu indistintamente aqueles bairros com especial requinte de terror no centro da cidade. A população civil, sem proteção nenhuma, já que o embate era exclusivo entre unidades militares pró e contra o Governo central, se escondia e se submetia à lei Marcial que imperava, ou então fugia para o interior do Estado. Quem ficou, arriscou-se a morrer, pois contaram-se mais de 500 mortes civis motivadas pela balas de canhões federais. Por essa razão, quase metade da população abandonou a cidade.

A Mooca guarda suas fotos e lembranças daqueles dias tristes.

Todas as fábricas do eixo que se conhece hoje como Avenida Radial Leste e da antiga Rede Ferroviária Federal foram bombardeadas e destruídas. O Cotonifício Crespi, notabilizado pelo nascedouro da primeira grande greve no País em junho de 1917, foi bombardeado impiedosamente assim como os imóveis residenciais que o circundavam.

O externato Matoso, escola localizada na Rua dos Trilhos, teve suas paredes frontais metralhadas, talvez por ter servido de trincheira para os rebeldes e até a década de 80, podiam se encontrar no início da Rua do Oratório, postes metálicos com marca de balas de fuzil e metralhas da época.

Por fim, no dia 28 de julho de 1924, os revoltosos, comandados por Isidoro Dias Lopes (do Exercito) e Miguel Costa (da Força Pública), deixaram a cidade por via férrea, sendo perseguidos e cercados no Mato Grosso, resolveram refugiar-se no Paraná e juntar-se às tropas revoltosas de Luiz Carlos Prestes, que vindas do Rio Grande do Sul originaram a famosa Coluna Prestes-Miguel Costa que perambulou pelo Brasil, lutando contra as tropas legalistas até 1927.

Texto do pesquisador Miguel Angelo Tarasi