Durante as décadas de 50, 60 e 70, uma curiosa construção chamava a atenção de quem circulava pela Rodovia Presidente Dutra, ainda pequena, com duas faixas em cada sentido. Por ali estava uma bela construção, na altura do Município de Guarulhos, que abrigava a fábrica de biscoitos Duchen. Entretanto, essa tradicional marca da nossa história, fora fundada na Mooca, muitos anos antes, em 1903, na rua Borges Figueiredo, quando, Pierre Duchen começou a produzir em São Paulo biscoitos seguindo a tradição européia. Ele havia percebido o grande interesse dos paulistanos por amanteigados e cookies trazidos da Europa, mas que não tinham similares no Brasil.
Por isso, a Casa Pierre Duchen preparava biscuits tostados duas vezes, sequinhos e crocantes, que eram vendidos em lindas latas decoradas. Em 1910, Duchen já era sinônimo de biscoitos. Nesse período, o sr. Duchen possuía duas fábricas operando no bairro paulistano da Mooca (foto) e em Jundiaí, no interior de São Paulo. Tamanha era a força da marca que, em 1924, durante a revolução, o governo escolheu a fábrica da Duchen , que havia sido projetada pelo arquiteto Victor Dubugras, como alvo militar, na tentativa de destruir a economia de São Paulo.
Seu desenvolvimento na ZL de São Paulo foi tão significativo que, para expandir sua estrutura e facilitar a logística do dia a dia para o interior de SP e do RJ, os proprietários escolheram a rodovia para montar sua fábrica, em um processo que começou em 1950 e terminou em 1951.
A grande curiosidade é que o edifício dessa empresa foi projetado por ninguém menos do que Oscar Niemeyer, em 1949. Ele possuía uma sinuosidade, comprida e estreita, com suas colunas à mostra, lembrando uma espinha de peixe. A edificação é uma obra inédita na trajetória de Oscar Niemeyer, já que foi um projeto para abrigar uma indústria. O projeto foi tão inovador que ganhou um prêmio na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, na categoria de construção industrial.
Entretanto, com a chegada da década de 80, tudo mudou e a Duchen encerrou suas atividades, deixando o edifício à própria sorte. Com o passar do tempo, uma transportadora vizinha fez um investimento e comprou o terreno onde estava a fábrica para transformá-la em pátio e estacionamento para seus caminhões. Entretanto, nesse meio tempo, o CONDEPHAAT, órgão que organiza o tombamento de patrimônios históricos, já estava trabalhando no processo para garantir que o edifício permanecesse de pé.
Para corroborar o processo de tombamento, o CONDEPHAAT foi consultar o arquiteto Niemeyer que, para a surpresa de todos, renegou a obra. Dessa forma, o conselho recusou o tombamento e, em 1990, a Duchen foi demolida. O novo proprietário do terreno, a Transportadora Atlas acabou tendo litígio com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), por conta do ocorrido.
Quanto a marca Duchen, ela foi comprada pela Parmalat ainda nos anos 90 e foi ressuscitada em 2003, emprestando seu nome a uma linha de bolacha.
Fonte: São Paulo em Foco