Em atenção aos meus prezados conterrâneos da Mooca deixo aqui algumas palavras sobre uma escola que fez parte dos primeiros anos da minha infância e também de muitos outros moradores do bairro . Trata-se do Centro Social Brás Mooca , mais carinhosamente conhecido na época como a “Escolinha da Dona Yaya ” .
A Instituição ainda lá encontra-se na Rua João Caetano , entre as Ruas do Hipódromo e Almirante Brasil , com suas paredes claras e janelões azuis.
Foi nos idos de 1950 que minha mãe matriculou-me no então chamado Jardim da Infância na “Escolinha da Dona Yaya ” . Eu ia contente para a escola levando o meu lanchinho que devorava na hora do recreio , ao mesmo tempo em que brincava com os colegas , sob o olhar atento das Serventes.
Época boa em que os problemas da vida praticamente ainda não nos atingiam.
Na Escola tinha uma Capela , onde , nos domingos pela manhã , um padre com sotaque italiano rezava uma concorrida missa , da qual participavam pessoas elegantemente vestidas , apesar da Mooca ser um bairro genuinamente de operários . Recordo-me também que algumas vezes surpreendi na sacristia o padre experimentando o “ sangue de Cristo” antes da missa.
Uma outra lembrança marcante é do locutor de rádio e depois apresentador de TV , Homero Silva , que dirigia um famoso programa Infantil na rádio/tv Tupi : “O Clube do Papai Noel”. Quase todos os domingos Homero Silva assistia a missa na “Escolinha da Dona Yaya ” em companhia de uma idosa Senhora , que supomos seria sua mãe.
E quem seria esta Dona Yaya de tão memorável nome ?
Chamava-se Vicentina Ribeiro da Luz . Nasceu em 1º de maio de 1896, em São Paulo, tendo falecido em 6 de janeiro de 1978, também em São Paulo. Era filha do engenheiro Cristiano Carneiro Ribeiro da Luz e de Dona Maria Vicentina de Abreu Ribeiro Luz.
No início do século passado Vicentina iniciou seus estudos em São Paulo por volta de 1903 e , em razão do trabalho de seu pai , a família mudou-se para o Rio de Janeiro retornando em definitivo a São Paulo no ano de 1908.
Participava da sociedade paulista da época., tendo sido várias vezes campeã no Clube Paulistano de Tênis . Apreciava música(era excelente contralto) , assim como outras manifestações artísticas : pintura, xilografia, bordado e piano.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914/1918) , ainda quando era bem jovem, Vicentina participou ativamente da organização e implementação de um serviço de assistência aos convocados para lutar no conflito, que foi instalado na Hospedaria dos Imigrantes, na Rua Visconde de Parnaíba , no bairro do Brás.
Em 1928, acompanhando seu pai em visita a propriedades situadas no bairro do Brás, iniciou um forte contato com a classe operária . Logo envolveu-se com as crianças que ficavam longo tempo do dia pairando pelas ruas , pois os pais saíam cedo para o trabalho e retornavam bem tarde para as residências .Assim Dona Yayá, como era conhecida, jovem ainda começou um trabalho assistencial de visitas a famílias pobres daquela região , deixando de lado a vida em sociedade para dedicar-se a tarefas de atendimento aos pobres.
Á época de 1932, enquanto desenrolava-se a Revolução Constitucionalista, Vicentina assumiu a Direção do Posto de Assistência à População Civil da Zona Leste.
No mesmo ano, cada vez mais consciente dos problemas da mulher-mãe e operária, que deixava seus filhos sozinhos para poder trabalhar, dona Yayá , com a colaboração de várias professoras e de suas amigas Srªs. Pérola Byington e Leonor Mendes de Barros , alugaram uma casa no Brás. Era o início do Centro de Assistência Social Brás-Mooca, espécie de creche para proteger as mulheres que trabalhavam fora do lar, assim como suas crianças, prestando assistência alimentar, educacional, médica e sanitária.
Em 1939 Vicentina Ribeiro da Luz , certamente influenciada por seu pai , Engenheiro Civil , publicou tese sobre como deveria ser a habitação ideal para o operariado , orientando como resolver o problema dos porões e cortiços dos bairros do Braz e da Mooca . Ao mesmo tempo colocava-se a favor do crescimento vertical da cidade pois considerava que os prédios de apartamentos – junto às fábricas e a parques infantis – eram a solução habitacional ideal para o trabalhador urbano.
Em 1949, atendendo a um pedido do juiz de menores, formou um internato na Rua João Caetano, na Mooca , no prédio de uma antiga escola alemã . Acolhia meninos de três a cinco anos, chegando a ter cinquenta internos, além de muitos outros externos , que eram cuidados até os doze anos de idade , sendo então encaminhados a outras organizações. Foi um das primeiras entidades brasileiras a desenvolver programas de assistência a maternidade e a abrir suas portas às 05:15 da manhã, devido ao horário de trabalho de muitas mães, operárias, que começavam o turno entre 05:30 e 06:00 horas.
Esta entidade funciona até os nossos dias , na Rua João Caetano.
Esperamos que os nossos conterrâneos que não conheciam a “Escolinha da Rua Yaya” apreciem mais esta interessante faceta do nosso querido “Principado da Mooca” , rico em história e tradições .
Atenciosamente.
Antonio José Carvalho