O Cotonifício Crespi fechou as portas em 1967. Foi a primeira fabrica da Mooca. Depois vieram outras: Armazéns Matarazzo, Grandes Moinhos Gambá, Casa Vanordim, Tecelagem Três Irmãos, Andrauss Cia. Paulista de Louças Esmaltadas, Fábrica de Tecidos Labor, Frigorífico Anglo, Máquinas Piratininga, Alumínio Fulgor e Companhia União dos Refinadores, todas localizadas na parte baixa do bairro, onde as terras eram mais baratas, e próximas à linha dos trens da São Paulo Railway.
A proximidade com a ferrovia tinha uma razão prática: facilitar o embarque e desembarque de mercadorias. Seus motores hidráulicos eram propulsionados por água advinda de reservatórios localizados no Alto da Mooca. A estrada de ferro também trazia os operários italianos, portugueses, espanhóis e os “hungareses”, como eram chamados os imigrantes da Europa Central e Ocidental. Era gente de diferentes sotaques, que chegava para “fazer a América”, atraídos pelo sonho de trabalho farto.
Os operários da Mooca viviam em casas geminadas, sem jardim e com pequeno quintal nos fundos. As portas e janelas davam diretamente para a rua, e de dentro das casas se ouviam as conversas dos vizinhos, o pregão do verdureiro e vassoureiro , as brincadeiras das crianças e as brigas nos bares.
Quando iam e vinham das fábricas os trabalhadores costumavam visitar uma capelinha próxima ao orfanato feminino Cristóvão Colombo. Era o oratório que daria o nome à rua, próximo à rua da Mooca e à avenida Paes de Barros. Comunistas e anarquistas rezavam, pedindo as bênçãos da Madona para seu trabalho e suas famílias.
Adélia abre os olhos. Uma lagrima furtiva embaça os óculos. Como se voltasse de um tempo que é agora, termina a conversa:
– A Mooca mudou. Cresceu, já não há mais fábrica, não tem mais apito chamando
para o trabalho. Mas tudo continua igual, sabe? Ainda tem vendedor na porta, tem caminhão que vende gás, tem o moço que vende pão na carrocinha. Aqui quem nasce operário morre operário, com gosto para trabalhar.
Bernardete Toneto
Trecho do livro “Casa de Taipa – O bairro paulistano da Mooca em livro-reportagem”