São Paulo de tantos defeitos e falhas, mas ao mesmo tempo, cheia de encantos, entretenimentos, diria até de poesias, afinal, pois, mesmo em meio ao caos e à violência, sempre nos deparamos com detalhes, imagens ou um ponto que nos traz lembranças antigas, as quais adoraríamos que fossem eternas, ou que nunca tivéssemos saído daquele momento. Pra mim, cada cantinho, rua, esquina ou pracinha da Mooca tem um momento desse.

Quem viveu, ou ao menos freqüentou aqui por um tempo, sabe o quanto esse bairro é encantador. Tudo bem, muitos dizem que é um bairro de velho, que não possui atrativos para os jovens, etc, etc… Até é verdade! Mas é isso que faz da Mooca um bairro atraente. Ela é auto-sustentável, independente de necessidades frívolas como baladas e point’s turísticos pra que queiram visitá-la,ou residir!

Sou descendente de italianos e meus familiares, ao virem do interior, queriam viver num bairro tipicamente italiano aqui de Sampa. Existia o Brás, que na época era o mais famoso dos bairros italianos, mas, devido a proximidade das fábricas que predominavam na Mooca, escolheram morar nela, pois a proximidade da residência com o trabalho, diminuía os custos com transporte. Hoje temos 1/3 de toda a família deienno morando na mooca e proximidades. Alguns podem até se distanciar para bairros vizinhos como o Tatuapé, Vila Formosa ou Vila Prudente, mas nunca se afastam demais, o cordão umbilical nunca é cortado e jamais será.

Hoje tenho 33 anos, nascido e criado nesse bairro espetacular. E como todo cidadão mooquense, sou fiel a ele! Fiz o ginásio na escola estadual Antonio de Queiroz Telles e o colégio no Plinio Barreto, e a faculdade na Universidade São Judas Tadeu; quando criança, fui várias vezes atendido no Hospital Infantil Candido Fontoura e depois de adulto, no João XIII; a balada que freqüentava com meus amigos eram a Over Nigth e algumas esporádicas Danceterias que abriam na Avenida Paes de Barros. Paes de Barros que alimentava nossa fome com o delicioso pastel do Salambô, umas das primeiras pastelarias do bairro, assim que saíamos do Clube Juventus; diversas vezes devorei os salgados e Doces da deliciosa Di Cunto, apreciando aquele cheirinho delicioso de café sendo torrado, na fábrica da União, ou sonhando em cair dentro de um dos tonéis de bebida (na época de guaraná, hoje seria a cervejinha) da Antártica, do outro lado da linha de trem; andar com meus pais, ou avô, pela rua da Mooca, para fazer compras, e sempre dar uma paradinha na Martinelli, para comprar um tênis pra mim; ir até a Pizzaria do Ângelo e comer uma pizza de mussarella, ou de calabreza, junto com um copo de guaraná; fazer o catecismo na igreja Nossa Senhora de Lourdes, pois a Bom Conselho era tão concorrida, que nunca tinha vaga; sempre comer uma fogazza na festa de San Genaro, todo mês de agosto.

Nossa, são tantas lembranças boas, que esse texto, já tão extenso e monótono, ficaria interminável para você que está lendo. Mas nada melhor do que um bom e velho saudosismo pra reavivar nossa energia vital e lembrar daquilo que nos tornou a pessoa que somos.

Ainda hoje, a Mooca possui seus atrativos antigos intocáveis, seu romantismo e encanto, e ainda por cima se renova, com lugares excelentes pra se reunir com a família e amigos, como o excelente bar Mooca, na rua João Batista de Lacerda; ótima comida, ambiente exemplar, bom atendimento, música ao vivo e decoração com tema na Mooca antiga… uma digna representante do bom e velho encanto mooquense… hehe

Posso até não viver o restante da minha vida aqui na no meu Bairro querido, mas garanto uma coisa, jamais esquecerei cada momento bom que passei aqui e nem pretendo cortar o cordão umbilical, e se possível, passarei toda essa tradição e amor pela Mooca aos meus filhos.

Autor(a): Emerson Deienno

História publicada em São Paulo Minha Cidade em 08/01/2007