Situada próxima ao centro de São Paulo e em face da imigração de trabalhadores europeus, sobretudo italianos em busca de melhores condições de vida, a presença de operários estrangeiros tornou-se comum nas fábricas da Mooca, bem como em todas do eixo São Paulo – Rio de Janeiro.

Diante da farta mão de obra, a lei mais elementar do comércio – da oferta e da procura – tomou seu lugar; os salários eram considerados baixos, assim como a qualidade e as condições de trabalho eram precárias.

Todavia, não obstante a necessidade de laborar, os operários insatisfeitos comumente se uniam, e os galpões das fábricas tornaram-se palco de inúmeras manifestações.

Em 1906 foi fundada a Confederação Operária Brasileira (COB) por iniciativa dos sindicatos.

Tal Confederação impôs um marco na história quando em 1.917 (período intitulado de Primeira República) os operários resolveram unir-se contrariamente aos interesses de seus empregadores.O epicentro da primeira grande manifestação situou-se na fábrica têxtil Cotonifício Crespi, incrustada no coração da Mooca (cujos imponentes muros mantêm-se inertes até hoje)

Conta a história que os operários postularam aumento salarial de 25% e a supressão da chamada contribuição pró-pátria, que consistia no desconto em folha de pagamento dos trabalhadores do Crespi em apoio financeiro à Itália) mas tiveram suas reivindicações recusadas, gerando enorme insatisfação que redundou em graves manifestações de protesto.

Como um rastilho de pólvora, as manifestações deixaram os galpões das fábricas da Mooca, alastrando-se pelos bairros fabris do Brás, Barra Funda, Lapa e Ipiranga, transbordando as fronteiras dos Estados e fazendo surgir o que seria uma das maiores manifestações sociais ocorridas na Primeira República: a primeira grande greve em 1917.

Não demorou muito e “A Greve” tomou caráter político, ocasionando uma repressiva intervenção

das tropas militares que, fazendo uso de metralhadores e veículos militares, tomaram (ou tentaram tomar) as rédeas da manifestação, culminando na morte do sapateiro e operário José Antonio Martinez nas imediações de uma fábrica de tecidos no bairro do Brás.

A notícia tomou os sentimentos do proletariado como uma afronta à dignidade e respeito da classe, transformando-se em uma das mais impressionantes demonstrações populares até então verificadas em São Paulo.
O féretro partiu da Rua Caetano Pinto, no bairro do Brás, estendendo-se como um oceano humano por toda a Avenida Rangel Pestana, num crescer que alcançou a Ladeira do Carmo até o centro da Cidade.

Foram percorridas as principais ruas do centro sob um “estrondoso” silêncio, revestindo-se em profunda advertência aos atos do Governo. Sem nenhuma eficácia, a polícia cercava os encontros de ruas com cordões, mas o cortejo continuou prosseguindo sua impetuosa marcha até o cemitério.

Encerrado o cortejo com o sepultamento do operário, parte da multidão reuniu-se em comício na Praça da Sé, ocasião em que igual multidão retornou ao bairro do Brás, reunindo-se de fronte à residência da família de Martinez

Convém lembrar que a repressão era comum em toda a República Velha (1889-1930), eis que os governos cuidavam de questões sociais com medidas arbitrárias.

Todavia, a morte do operário do Brás incentivou diversas adesões de diferentes Estados e, após

cinco dias, os manifestantes em greve somavam mais de 50 mil operários e trabalhadores com, pelo menos, 20 mil só no Estado de São Paulo

Durante um mês, a cidade de São Paulo foi acometida por inúmeras manifestações de greve, numa amostra de mobilização incomum para a época.

Imensa paralisação forçou o Governo a intervir na Greve decretando em todo o país estado de sítio; os grevistas taxados de anarquistas – que na maioria eram imigrantes –
sentiram o forte peso da repressão governista de São Paulo que almejava suas expulsões do País; como anarquistas, representavam uma força contrária ao governo, e assim eram considerados, porquanto desde 1892 a influência de princípios socialistas entre os operários se fundamentava, ademais das influências ideológicas dos anarco-sindicalistas que postulavam a implantação de uma sociedade igualitária, à espera da queda póstuma do Capitalismo.

No mais, a burguesia de São Paulo fortaleceu a briga em favor do estado e o movimento político dos operários foi enfraquecendo-se cada vez mais, restando ao final a marca indelével da Primeira Grande Greve Brasileira.

Foi assim que o Cotonifício Crespi e a Mooca tornaram-se marcos principais e referência das lutas (intermináveis) dos trabalhadores.