Na década de 40, a cidade de São Paulo vivia um crescimento acelerado e desordenado, com o grande número de imigrantes a procura de melhores oportunidades de emprego. Em paralelo, a especulação imobiliária favorecia a venda de imóveis de baixo custo em bairros periféricos, distantes da área central, provocada por uma política municipal de planejamento urbano baseada na descentralização. Por outro lado, essa nova realidade obrigava ao Poder Público a necessidade de dotar a essa periferia com maior e melhor infra-estrutura de serviços, sendo necessária a construção de escolas, hospitais, bibliotecas, parques infantis, etc.
Para que este projeto pudesse ser concretizado, foram criados convênios entre a Prefeitura e o Estado, mas este convênio só passou a atuar efetivamente em 1945, quando o então prefeito Nilton Improta criou uma Comissão Executiva com o objetivo de desenvolver os competentes estudos visando a criação da referida infraestrutura, Comissão esta que dispunha de total autonomia de decisões e recursos. Seu primeiro presidente foi o Engenheiro José Amadei, que, com a colaboração do arquiteto Hélio Duarte, iniciou uma série de projetos e estudos para a construção de edifícios escolares.
Estes projetos obedeciam a alguns padrões arquitetônicos, inspirados na arquitetura moderna defendida pelo renomado arquiteto Le Corbisier, com espaços versáteis, amplos, arejados e iluminados, para que houvesse uma perfeita integração entre interior e exterior.
Apesar de enfrentar sucessivas críticas na Câmara de Vereadores, o Convênio ultrapassou o objetivo inicial voltado para a construção de escolas e passou a preocupar-se também com bibliotecas, parques e teatros. O arquiteto Hélio Duarte rebate essas críticas, alegando que “qualquer perspectiva séria de educação e instrução da população não pode se restringir ao âmbito exclusivo da sala de aula”
Assim, iniciaram-se as obras para construção dos teatros municipais João Caetano, Paulo Eiró e o nosso Arthur Azevedo, inspirado no “Palais des Sovietes”, obra esta projetada pelo referido Le Corbusier. O grande responsável pelo projeto padrão dos mesmos foi o arquiteto Roberto José Goulart Tibau, cuja idéia era fazer com que aquele espaço se integrasse ao local onde se situava, para com isso popularizar o seu uso.
O Teatro Arthur Azevedo, que recebeu esse nome em homenagem ao grande teatrólogo, poeta, contista e jornalista brasileiro, foi inaugurado em 2 de agosto 1952, mesmo sem estar acabado, com a apresentação da peça “O Príncipe Medroso” encenada pela Sociedade Paulista de Teatro Graça Mello, tendo à frente a atriz Nydia Licia. Mas, por estar inacabado, o teatro, os espetáculos e, naturalmente, o público eram sempre castigados quando chovia.
E esta não foi a única dificuldade que o Teatro enfrentou. Ainda havia o problema de falta de público, pois os moradores do bairro não conseguiam assimilar o valor cultural de uma casa de espetáculos. Outra dificuldade era o trânsito, pois o acesso era difícil, não havia iluminação, nem mesmo asfalto. Foi necessário fazer um trabalho junto às Igrejas e Entidades do bairro para que fosse possível chamar o público para o Teatro.
A partir de então as associações religiosas do bairro, principalmente das Igrejas São Rafael e Bom Conselho, formaram grupos de teatro amador. Com isso o Teatro Arthur Azevedo passou a ser o preferido para a apresentação de grupos amadores. E nas décadas seguintes foi palco para a realização de diversos festivais de teatro amador do Estado de São Paulo e para a temporada oficial dos Elencos Teatrais Independentes.
Além da encenação de peças teatrais e de espetáculos musicais, o “Arthur Azevedo”, principalmente nas décadas de 50 a 70, foi palco de inúmeras óperas, como “O Barbeiro de Sevilha”, “Madame Butterfly”, “Cavalaria Rusticana” e outras.
Por volta de 1968, houve um esvaziamento de parte da produção cultural brasileira, especialmente nos teatros, que eram os alvos preferidos da censura. Esta situação perdurou até o final dos anos 70.
Para os teatros distritais este período foi pior ainda, pois além das conseqüências causadas pelo momento político pelo qual passava a sociedade, eles tiveram que passar por algumas mudanças administrativas, pois em 1976 foi criada a Secretaria Municipal de Cultura, e sua primeira providência foi o fechamento dos teatros Artur Azevedo, João Caetano e Paulo Eiró para que fosse feita uma reforma, tendo em vista o agravamento dos problemas técnicos existentes desde a inauguração.
Em 1977 ocorreu a reabertura dos teatros, que iniciavam suas programações atendendo a nova política cultural da Secretaria, sendo um desses objetivos o desenvolvimento de campanhas pela popularização do teatro adulto e infantil, para que atraísse mais público de qualidade a preços acessíveis.
Mas foi em 1988 que o teatro sofreu uma reforma mais ampla modernizando-se, embora, para tal, tendo que permanecer fechado por quatro anos, com a compensação de ter se tornado o teatro mais moderno de São Paulo à época. Na reinauguração, ocorrida em 1992, a grande atriz Fernanda Montenegro se apresentou com o monólogo “Dona Doida”, obrigando até a intervenção da polícia para controlar o número incalculável de pessoas que disputavam os 500 lugares do teatro.
Passaram pelo “Arthur Azevedo” inúmeros atores e atrizes consagrados, como Cacilda Becker, Walmor Chagas, Procópio Ferreira, Dercy Gonçalves (talvez a recordista de público neste Teatro), Paulo Goulart, Nicete Bruno, Edson Celulari, Tony Ramos, Otavio Augusto, Marco Nanini, Edwin Luisi entre muitos outros.
Por volta do ano de 1991, considerando o fato de que o Teatro Arthur Azevedo, assim como os demais anteriormente citados, foram os primeiros a serem construídos em locais distantes da área central da cidade e que os mesmos foram projetados e construídos de acordo com as idéias estabelecidas pela arquitetura moderna, cujo objetivo era integrar o espaço ao uso e local e, ainda, o considerável número de freqüentadores predominantemente em espetáculos promovidos pela comunidade local, o Condephat -Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico resolveu promover o tombamento do prédio do Teatro Arthur Azevedo, fator este de suma importância para a sua conservação e perenidade e para o enriquecimento cultural e histórico do Bairro da Mooca.
Na segunda década do século XXI, o Teatro passou, novamente, por uma ampla reforma permanecendo fechado durante alguns anos, para tristeza de seus frequentadores, até que em 18 de Agosto de 2015, foi reaberto para o público.