O Memorial do Imigrante, também conhecido como Museu da Imigração, fica na Mooca ou no Braz ? Nós achamos que é na Mooca. Mas isso não é importante. O que vale mesmo é a importância que o mesmo representa para a história da Mooca e de São Paulo.
Mas, para que possamos falar sobre o Memorial do Imigrante é necessário que façamos uma viagem no tempo e voltemos até a época das lavouras de café…
Mesmo antes da abolição da escravatura, a emigração para Brasil já ocorria em grande escala pois na segunda metade do século XIX houve um enorme crescimento do comércio internacional do café; além disso, a cada dia, os movimentos abolicionistas ganhavam mais força e a sociedade brasileira achou melhor incentivar a vinda de imigrantes para o Brasil.
Os produtores utilizavam estes imigrantes como uma alternativa à mão de obra escrava; contudo, com o fim da escravatura, a vinda dos imigrantes tornou-se imprescindível.
Para receber estes imigrantes, em 1882, foi criada uma hospedaria no bairro do Bom Retiro que, depois de alguns anos, tornou-se inadequada para tal finalidade, porquanto já não suportava o grande número de imigrantes que chegavam ao País e, além do mais, passou a enfrentar graves problemas com uma epidemia. Diante disso, surgiu a necessidade de construir outra hospedaria.
Desta forma, no ano de 1885, o governo sancionou uma lei autorizando a construção de uma nova hospedaria. O local escolhido para construção foi o aquele onde hoje se situa o Memorial, porque justamente nesse local cruzavam os trilhos das duas ferrovias que serviam a cidade de São Paulo, a antiga Central do Brasil, que vinha do Rio de Janeiro e a São Paulo Railway, que vinha de Santos. E isso era muito importante, pois os imigrantes vinham para o Brasil de navio e desembarcavam no porto de Santos ou no porto do Rio de Janeiro, chegando de trem até a hospedaria.
Em 1.887, um surto de varíola e difteria atacou a hospedaria do Bom Retiro e por isso foi necessário que a hospedaria do Brás, mesmo inacabada, recebesse o primeiro grupo de imigrantes . As obras só foram concluídas em 1888. A hospedaria funcionava como uma espécie de hotel, que era mantido pelo governo, recebendo os imigrantes recém-chegados.
Ao chegarem na hospedaria, os imigrantes eram levados ao refeitório, onde era servida uma refeição; logo após eram instruídos dos regulamentos da hospedaria e levados aos dormitórios.
No dia seguinte ao da chegada, os imigrantes eram todos vacinados e, em seguida, levados para o salão de chamada, onde era feita a verificação de seus nomes, idade, profissão, etc. e, após isso, cada família recebia o “ cartão de rancho” que lhes dava direito a permanecer na hospedaria pelo prazo de 6 dias; além disso o cartão servia também como um documento pessoal.
Cumpridas essas formalidades, os imigrantes eram apresentados à Agência Oficial de Colonização e Trabalho para serem informados sobre os locais em que haviam vagas disponíveis para trabalho. Na posse destas informações os imigrantes voltavam para hospedaria para que, pessoalmente, ajustassem com os fazendeiros os seus empregos.
Após passar por 3 administrações diferentes, no ano de 1924, em virtude da Revolução que ocorria na cidade de São Paulo, algumas das dependências da hospedaria serviram como presídio político, mantidos sob o controle da Secretaria de Segurança Pública.
Em 1929 a hospedaria foi utilizada para alojar os desabrigados da maior enchente que atingiu toda cidade de São Paulo.
Novamente em 1932, no ano da Revolução Constitucionalista, a hospedaria foi ocupada pela Força Pública e serviu como prisão para os Getulistas.
Em 1936, a Hospedaria passa pela sua primeira grande reforma e sofre algumas alterações nas suas características originais.
Em 1943, com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o DOPS utiliza-se da hospedaria deixando sob guarda alguns imigrantes japoneses e alemães que eram considerados “súditos do Eixo” . Neste mesmo ano era instalada na hospedaria a Escola Técnica de Aviação que permaneceu ali por 8 anos.
Com a criação da Secretaria da Promoção Social, a hospedaria recebe o nome de Departamento de Migrantes.
E foi no ano de 1982 que o conjunto arquitetônico da hospedaria, que presenciou tantos momentos históricos e importantes foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico.
Quatro anos depois, é criado o Centro Histórico do Imigrante, e em 1998, enfim, foi fundado o MEMORIAL DO IMIGRANTE, visita obrigatória e indispensável para todos aqueles que são descendentes de imigrantes e se interessam pela sua história, ou mesmo para aqueles que não são descendentes mas se emocionam com a história daqueles que vieram tentar a vida aqui nas nossas terras.
O Memorial do Imigrante foi criado com o objetivo de reunir, preservar e expor a documentação, memória e objetos daqueles imigrantes que vieram para o Brasil à procura de uma vida melhor. Ele é composto pelo Museu da Imigração, por um Centro de Pesquisa e Documentação, além do Núcleo Histórico dos Transportes e Núcleo de Estudos e Tradições.
Outra característica interessante existente no Memorial é o espaço que foi reservado para a preservação da memória do transporte. As principais atrações desta ala ficam por conta da Pacific 353 , mais conhecida como “Velha Senhora”, que é uma locomotiva a vapor de 1927, considerada a maior existente no Brasil, e a de Nº 5, a “Marta”, outra locomotiva de 1922. Elas fazem um passeio percorrendo um pequeno trecho, mas proporcionam aos seus visitantes a mesma sensação que tiveram seus antepassados quando chegaram ao Brasil.
O Memorial oferece uma outra atração que vale a pena conferir: trata-se de um bonde construído pela empresa inglesa Hurst Nelson, datado de 1912 que pertencia a “ The city of Santos Improvements Company” ; este bonde faz o trajeto Memorial – Estação Bresser do Metrô, ida e volta.
O Memorial do imigrante ocupa parte da antiga hospedaria que abrigava os imigrantes recém chegados ao Brasil. Em seu museu pode-se encontrar, praticamente, todos os registros das pessoas que passaram pela antiga hospedaria, listas de bordo dos navios, livros de registro de imigrantes, cartas de chamada, além de documentos pessoais doados por alguns imigrantes; parte destes registros já se encontra informatizada e qualquer pessoa pode fazer uso dos computadores para pesquisar informações sobre sua família. Além disso, o Memorial possui um acervo com centenas de fotografias, gravações em vídeo de depoimentos de imigrantes, contando ainda com várias salas de exposições permanentes e temporárias, além de biblioteca especializada em imigração.
Texto extraído do site www.memorialdoimigrante.sp.gov.br