Estava lembrando hoje de uma história engraçadissima. Há alguns anos atrás (gozado como essa história está cruzando a linha entre o “alguns anos atrás” e indo para o “muitos anos atrás”), quando o Fluminense estava disputando a segunda divisão do Brasileiro (1998, creio). Ele ia jogar contra o Juventus em SP, e o Ubiratan levantou a lebre de irmos ao jogo.
Para quem não sabe o Juventus (famoso Moleque Travesso) é um dos times de futebol mais tradicionais de São Paulo, localizado no não menos tradicional bairro da Mooca, reduto italiano em SP, e local de onde vieram expressões paulistanas como “belo”, “mina”, “meu” e sua variante “orra meu”; enfim, um dos bairros mais bacanas da cidade (eu creio que tenha sido italiano em outra vida, não é possível). Bom, após mais um momento Rodrigo de divagação, voltemos à história. O problema de se ver Juventus x Fluminense era que o jogo não aconteceria mais na Rua Javari, no simpático estádio do Juventus, e sim em Osasco, região da grande SP (o motivo para mim é desconhecido).
Bom, era para ser um problema, mas o Juventus disponibilizou dois ônibus para a torcida viajar pra Osasco, e lá fomos nós. Desnecessário dizer que a torcida do Moleque Travesso mal ocupa um ônibus, quanto mais 2, mas os dois fizeram a viagem, para impor o respeito que o time merece e fazer a devida pressão psicológica no adversário (que só tinha levado um ônibus, veja só).
O melhor dessa estória reside nas viagens de ida e de volta. Lá, conhecemos o responsável pela Ju-Jovem, torcida uniformizada do Juventus, um cara chamado de Serjão, que um paulistano não levaria 2 minutos de conversa para ter certeza que ele vinha da Mooca. O gestual, o jeito de falar, tudo nele transpirava suor italiano.
Da Rua Javari até Osasco, ele soltou uma série de discursos contra diretoria, contra jogador, contra técnico, com a autoridade de quem se mata pelo time. Foram criados alguns cantos de guerra para esquentar os ouvidos desses citados, mas o mais legal é que todos eram de uma educação impressionante: sem palavrões, sem palavras chulas, como se eu estivesse em 1950, quando se ia de estádio com chapéu e briga na torcida era algo que não existia.
Bom, 1 milhão de “nego”, “belo”, “orra” depois, chegamos em Osasco. O estádio era municipal, mas duvido muito que fosse o principal da cidade. Hmmmm, duvido que fosse estádio, parecia a sede de um time de várzea (tipo o Clube do Mé, aqui em SP). O jogo passa normalmente, as cantos antijogadores e técnico foram substituídos por pura paixão ao grená juventino, o que foi muito bom de se ver.
Fim de jogo, 1×0 para o Juventus. O Serjão, que teve comportamento exemplar durante o jogo, se altera de uma hora para outra, gritando para todos:
“VAMO EMBORA QUE OS CARAS DO FLUMINENSE QUEREM PEGAR A GENTE!!!!”
O mais engraçado é que eu via a torcida do Fluminense saindo tranqüilamente pela saída oposta àquela onde estava nosso ônibus esperando. Tudo bem, tudo em nome da diversão, entrei no clima de desespero. Eu vi velhinhos, crianças, todo mundo correndo loucamente para o ônibus, e ao chegar lá, o Serjão foi taxativo:
“TOCA AÍ, VAMO EMBORA LOGO!!!!”
Nada é como nos filmes, e o motorista ainda esperou algumas pessoas entrarem no ônibus antes de dar partida e sair tranqüilamente (parecia estar acostumado com a paranóia da saída de jogo). Então, indo embora, o Serjão intervém mais uma vez:
“CADÊ O VICENTE?????? ELE NÃO ENTROU NESSE ÔNIBUS?????”
Ele desce correndo, parte para o front e traz de volta um senhor idoso, que estava pacientemente esperando o ônibus encostar após o jogo. Eu não consegui agüentar, ri loucamente no fundo do ônibus, em um volume seguro, até porque não queria ser largado lá. A cena mais uma vez se repete, e entram no veículo uma menina e o pai dela.
Na volta, foi só passeio e mais discurso. Ainda falamos com um jornalista que cobre os jogos do time e que apresenta um programa do Juventus em uma rádio de SP (não lembro do nome, desculpem), e fechamos o passeio nesse túnel do tempo que é o Clube Atlético Juventus…
Rodrigo Carvalho Leme