Passei minha infância na Mooca, perto da rua dos Campineiros, a região naqueles tempos tinha um “ar” interiorano, havia um pasto perto de uma chácara que era por nós conhecido como “campo dos bois” -se não me falha a memória ficava na rua Itaqueri- no “campo dos bois” a garotada se reunia para jogar futebol, empinar “quadrado” também conhecido como “papagaio” e outras tantas brincadeiras da infância.
A rua Flaquer Júnior, ainda de terra, ( hoje ela tem outro nome) onde eu morava, era o nosso “play-ground” brincávamos de humana-mula, pega-pega, jogo das bolinhas de gude, etc..! Durante as festas juninas, em frias noites, ao redor da fogueira, cantávamos “cai… cai… balão…” assávamos batata doce e estourávamos bombinhas de São João, isto sem falar nas “perigosas” guerras de busca-pé; guerras que das quais, felizmente, nenhum de nós saiu machucado. Acho que nosso Anjo da Guarda era forte.
Na mesma rua morava um chofer de taxi. Seu carro, que era um belo Chevrolet 194… fazia o maior sucesso com a criançada; lembro-me que, nos dias em que ele ia fazer um casamento, o carro saia reluzente e enfeitado com flores brancas. Uma festa!
Lembro-me também dos anos da guerra e das “filas do pão“, (por causa da guerra o pão era racionado) filas formadas pelas famílias que passavam a noite, madrugada adentro, para comprar um pouco de pão de manhã cedinho, assim que a padaria soltava a primeira (e penso que única) fornada . Para nós, crianças, as noites de “fila do pão” eram um divertimento a mais. Nesses dias nossos pais nos deixavam ficar na rua até mais tarde. As pessoas sentavam-se em cadeiras e ficavam batendo papo comentando os acontecimentos, lendo o jornal enquanto as horas passavam…
Um de meus melhores amigos se chamava Luis, eu o considerava riquinho porque ele tinha um piano em casa e o pai tinha um negócio de perfumaria na parte térrea do sobrado onde moravam. Lembro bem que a perfumaria foi o primeiro comércio, daquelas redondezas a ostentar o nome em um luminoso de “Neon” o que então era uma novidade por ali.
Na rua da Mooca, perto de onde eu morava, algumas vezes “aparecia” um parquinho de diversões com roda gigante, carrossel, tiro ao alvo, algodão doce etc. Era a festa da criançada pois o parquinho significava mais um lugar para se divertir.
Algum tempo depois, acho que no mesmo terreno onde eram montados os parquinhos, foi construído o que viria dar vida nova e movimento àquela parte da Mooca: o “Cine Imperial”
Quantas matinês de domingos “viajei” na sela de um cavalo ao lado do “mocinho” combatendo os “bandidos” ou dependurado num cipó ao lado de Tarzan e Chita voando de galho em galho. Nessas matinês era onde aconteciam as paqueras e onde a garotada levava a namoradinha. Ah! O primeiro beijo, no escurinho do cinema…
Depois, já na adolescência, o programa dos sábados à noite se deslocava para as imediações da avenida Paes de Barros esquina com a rua da Mooca onde acontecia o “footing“: as meninas circulavam airosamente e os rapazes parados em grupinhos lançavam gracejos e elogios… “que uva!, a mais bonita é a de saia azul” , quando nenhuma vestia azul. Muitos namoros começavam assim.
Morei na Mooca por mais alguns anos depois de adulto, mas as melhores lembranças são as dos meus primeiros anos e dos amigos daqueles tempos.
Alfredo Winkler