Ai que saudades que eu tenho
Do bairro onde eu nasci
Do morro coberto de amoras
Do lar Barroca onde cresci
Ai que saudades que eu tenho
Do canto apaixonado do sabiá
Do canto melodioso do tico-tico
Do canto debochado do bem-te-vi
Ai que saudades que eu tenho
Dos amigos que lá deixei
Das peladinhas de rua
Dos jogos de dama e xadrez
Ai que saudades que eu tenho
Da água pardacenta do lago
Dos pulos e das cambalhotas
Do vôo do canzil sobre o charco
Ai que saudades que eu tenho
Do som continuo das rãs
Do som estridente dos grilos
Do som da coruja da noite
Ai que saudades que eu tenho
Do canto do garnisé
Do latir do vira lata
Do cabrito a ruminar
Ai que saudades que eu tenho
Da lenta passagem do isoso
Da velhas regando as flores
Das mães cuidando do lar
Ai que saudades que eu tenho
Das festas de São João
Das quermesses e dos cricos
Das rezas e das procissões
Ai que saudades que eu tenho
Dos encontros “casuais”
Dos rapazes sonhadores
Dos romances sensuais
Ai que saudades que eu tenho
Dos sambas e das marchinhas
Das cabrochas e dos passistas
Dos pierrôs e das colombinas
Ai que saudades que eu tenho
Das bisbilhotices das velhas
Dos calouros desafinados
Dos atletas “embebedados”
Ai que saudades que eu tenho
Das ruas movimentadas
Das casas sem grades e muros
Das prosas e das serenatas
Ai que saudades que eu tenho
Das lindas moças operárias
Das saias rodadas de chita
Das cinturas bem apertadas
Ai que saudades que eu tenho
Dos meus tempos de estudante
Dos contínuos e serventes
Dos meus mestres impacientes
Ai que saudades que eu tenho
Dos filmes do faoeste
Dos soux cara-pintadas
Dos soldados cara-pálidas
Ai….
De Alcides Barroso Garcia (Cidão)
Extraído do livro “Mooca, berço dourado”